Dia 3 de fevereiro passado, o então obscuro vice-presidente da Câmara conquistou súbita notoriedade nacional. Conseguiu essa façanha ao levantar o braço esquerdo e exibir punho cerrado em plena cerimônia de abertura do ano legislativo.
Teve a desarrazoada ideia de cometer o gesto na presença de Joaquim Barbosa, presidente de um dos poderes da República. É de crer que tenha agido assim de caso pensado. Não nos esqueçamos que, pelo ordenamento de nossa Constituição, o posto ocupado pelo doutor Barbosa é equiparado à presidência da República.
Naquele momento, o deputado Vargas não estava na sala de visitas de sua casa. Encontrava-se em solenidade oficial, mirado pelas câmeras de tevê. Desacatou a figura máxima do Judiciário brasileiro, personagem hierarquicamente superior a ele. Se fez o que fez, foi porque quis.
Seu primitivismo incomodou muita gente. Escandalizou gregos, persas, troianos e cartagineses. Fez lembrar a dança da pizza, obra daquela parlamentar que a poeira do tempo se encarregou de varrer. Foi daquelas atitudes que projetam seu autor à estratosfera da popularidade para, em seguida, atirá-lo rapidinho ao lixo da humilhação e do esquecimento.
Mais que ofensivo, seu gesto foi suicidário. Nestes tempos em que o gigante adormecido anda ensaiando entreabrir um olho, não convém mostrar a face torpe do Congresso. O Poder Legislativo anda já bastante alquebrado. Não interessa a nenhum parlamentar degradar ainda mais sua imagem junto à população. A última coisa que nossos parlamentares desejam é acentuar a a face escabrosa que já projetam.
Com a arrogância que só a ignorância permite, o deputado Vargas cutucou a onça com vara curta. Agasalhado na certeza da impunidade, o parlamentar foi dormir feliz como criança depois da mamadeira. O sono do herói não durou muito. Dois meses depois do desaforo, o mundo desabou sobre sua cabeça.
Sua íntima ligação com um doleiro vai levá-lo à ruína. A não ser que abandone seu mandato antes, será destituído por seus pares. E quer saber de uma coisa? Não escaparia nem que a votação ainda fosse secreta. A nenhum de seus colegas interessa atrair a atenção do distinto público para o lado podre daquela Casa.
O bumerangue voltou e atingiu em cheio o lançador bisonho. Quem tem telhado de vidro…
13 de abril de 2014
José Horta Manzano
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