Em 1871, havia em Nova York uma das mais endinheiradas plutocracias da História. Era demófoba, antissemita e racista. Do nada, ela criou o Metropolitan Museum com a ajuda de um general e conde italiano, que não era general nem conde, apenas um finório. O museu só abriu aos domingos em 1889 porque pobre cospe no chão. Judeu no conselho, só em 1909. Negro, em 1971. Hoje, o Met abre sete dias por semana, recebe 6 milhões de visitantes a cada ano, e os nomes de seus 960 grandes benfeitores estão nas placas de mármore que ladeiam sua escadaria.
São Paulo também tem sua plutocracia. Graças ao jornalista Assis Chateaubriand, dono da maior rede de comunicação do país na metade do século XX, existe o Museu de Arte. Recebe 50 mil visitantes por mês e está arruinado, deve R$ 8 milhões e recentemente ganhou notoriedade quando dele saiu a proposta para gradear seu vão livre.
Na sua enésima encrenca, saíram do Masp duas notícias. Uma boa, outra ruim. A boa é que existe a possibilidade de os bancos Itaú e Bradesco apadrinharem a instituição, remodelando-a. A ruim é que os governos do estado e da cidade querem participar da gestão do museu.
O Masp precisa blindar sua natureza privada. Os impostos estaduais dos paulistas sustentam uma boa instituição, a Pinacoteca, e uma ruína, o velho museu do Ipiranga, que está fechado (o Masp, pelo menos, está aberto). O governo de São Paulo e a prefeitura sustentam mais museus que os governos do estado e da cidade de Nova York. Os americanos dão benefícios às instituições, às vezes têm assentos em seus conselhos, mas não se metem na gestão.
O Itaú, o Bradesco e quem mais estiver disposto podem transformar o Masp na vitrine de excelência e gestão de uma elite. Nos anos 70, quando Nova York e o Metropolitan viviam dias de crise, quem presidiu a mudança do museu foi um banqueiro. Douglas Dillon, que havia sido secretário do Tesouro de John Kennedy, apoiou uma política que reorientou a instituição para o povo. O museu preocupou-se sobretudo em exibir. Foi na sua presidência que expandiram-se as lojas de lembranças, transformadas em agradáveis mafuás. Hoje, o Metropolitan opera uma máquina que é o sonho de qualquer banqueiro. Tem 170 mil pequenos contribuintes que a cada ano depositam cerca de 30 milhões de dólares, e não sacam.
13 de abril de 2014
Elio Gaspari é jornalista.
O Globo
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