COM ECONOMIA ESTRAÇALHADA PELOS GOVERNOS DO PT, BRASIL CAMINHA PARA CENÁRIO DE INFLAÇÃO ALTA. SÓ VITÓRIA DA OPOSIÇÃO PODE REVERTER A DESGRAÇA.
A poupança dos países emergentes e em desenvolvimento saltou dez pontos percentuais entre 1990 e 2013, para 33% do PIB (Produto Interno Bruto).
A tendência contrasta com o encolhimento da economia feita por famílias, governo e empresas no Brasil, onde a taxa de poupança encolheu de 19,4% para 13,9% do PIB no mesmo período.
Ou seja, o Brasil poupou, no ano passado, menos da metade que a média de seus pares, a maior distância registrada desde pelo menos 1980, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.
Como consequência da baixa poupança doméstica brasileira, o país também investe pouco.
Entre 22 emergentes importantes, o Brasil é o terceiro com a menor taxa de investimento, 18,4% do PIB em 2013.
Esse contexto ajuda a explicar o cenário atual de inflação elevada, em que o aumento da oferta de bens e serviços não tem acompanhado a expansão da demanda. E faz com que o Brasil caminhe na contramão do mundo em termos de política monetária.
Entre 20 países monitorados pelo Itaú Unibanco que anunciaram decisão de política monetária, em março e no início deste mês, o Brasil foi o único a elevar os juros.
Segundo a economista Monica de Bolle, sócia da Galanto Consultoria, o aumento da poupança doméstica nos países emergentes foi uma resposta às crises ocorridas no fim da década de 1990:
"Os países emergentes, especialmente os asiáticos, adotaram uma política de enorme esforço para aumentar seu colchão de proteção". A taxa de poupança dos países asiáticos foi a que mais subiu nas últimas décadas. Isso alimentou a compra de títulos da dívida de países desenvolvidos, o que, segundo o FMI, tem sido um dos principais fatores da baixa taxa de juros real (descontada a inflação) global.
CAMINHOS DISTINTOS
Na América Latina, países como Peru, Equador e Colômbia aproveitaram a demanda externa favorável na década passada para aumentar sua poupança doméstica. Já o Brasil optou pelo caminho do maior consumo.
"Acho que essa foi uma decisão da sociedade, o que é até compreensível em razão das duas décadas de severa restrição de consumo que o país sofreu por causa da inflação elevada", diz de Bolle.
Para o economista e professor da PUC-RJ Tiago Berriel, a expansão do crédito e a melhoria na Previdência Social podem ter contribuído para a preferência pelo consumo no Brasil. "Esses são fatores que tendem a puxar a poupança para baixo."
O governo também ajudou a acelerar o consumo no Brasil. Nos últimos anos, isso ocorreu por meio de incentivos para a aquisição de bens como automóveis e pelo aumento dos gastos públicos.
Segundo Constantin Jancso, economista do HSBC, o consumo elevado e a queda no lucro de grandes empresas, como a Petrobras, explicam a redução da poupança doméstica do país.
"Parte da poupança vem do lucro das empresas, que tem caído", afirma.
INFLAÇÃO = DESGRAÇA
Com a poupança baixa e em queda, faltaram recursos para financiar os investimentos que deveriam ter sido feitos a fim de aumentar a oferta de bens e serviços.
O resultado tem sido a taxa de inflação persistentemente alta.
Segundo Caio Megale, economista do Itaú Unibanco, o Brasil já estava com um nível mais alto de inflação quando o chamado relaxamento monetário nos países ricos levou a um excesso de recursos na economia global.
O efeito dessas políticas foi a depreciação de moedas dos emergentes, o que pressionou as taxas de inflação.
"Países que estavam com inflação acomodada, como Colômbia, Chile e México, puderam se preocupar mais com a atividade econômica, que enfraqueceu nos últimos anos, e afrouxar a política monetária."
No Brasil, o Banco Central resistiu, mas começou a subir os juros há um ano.
Economistas acreditam que, apesar do aperto monetário recente, a inflação deva permanecer elevada. "Não vejo sinais de inflação menor em um horizonte longo", afirma Berriel, da PUC-RJ.
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