UM ABRAÇO REVELADOR

           
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O gesto do abraço sintetiza a soma dos nossos males políticos.

Ontem, em evento com catadores de papel em São Paulo, Paulo Maluf foi vaiado pela plateia. No palco as estrelas petistas, inclusive a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Paulo Maluf foi consolado por um abraço de Gilberto Carvalho, corifeu da constelação petista. Abraço revelador. A matéria está bem relatada no Estadão.

Paulo Maluf é um remanescente da direita populista, que teve em Janio Quadros seu expoente máximo. Depois de exercer diversos mandatos, Maluf perdeu parte substancial de sua base eleitoral, sobretudo nos anos recentes. Novas lideranças por ele apoiadas, como Guilherme Afif Domingos e Gilberto Kassab, deixaram de lado o discurso populista de direita, conservador, para aderir a uma plataforma socialdemocrata.

O abraço de Gilberto Carvalho foi consolador e emblemático. Representou a adesão que a direita populista fez ao projeto político do PT, pela via da composição da base de apoio no Congresso Nacional. Além de minoritária, essa fração da direita política subordinou-se àqueles que são seus inimigos históricos, a própria razão de ser do populismo de direita.

Maluf foi vaiado pela gente mais pobre, que outrora era a massa de manobra do populismo de direita. Ela agora, por força das bolsas e da propaganda política, transferiu-se integralmente para a base eleitoral do PT.

O gesto do abraço sintetiza a soma dos nossos males políticos. Ele sugere a superação da polarização direita/esquerda, não pela homogeneização ideológica dos polos, mas pelo desaparecimento de um deles. Esse abraço explica porque não temos tido alternância no poder político e não teremos em um futuro previsível.

Depois de anos seguidos de revolução gramsciana implacável podemos ver no que deu a sua conclusão: no monopólio do poder das esquerdas. O abraço de Gilberto Carvalho é aquele do tipo dado pelo tamanduá. Ou pela onça prestes a devorar sua vítima.

23 de dezembro de 2013
Nivaldo Cordeiro