O julgamento do mensalão trouxe um fato inusitado, verdadeira revolução, no imaginário brasileiro. Nunca se viu na nossa história uma condenação como a que mandou para a Papuda, e outras penitenciárias, figuras tão notórias como a criminosa cúpula dirigente do Partido dos Trabalhadores. O sistema judiciário do país não foi concebido para julgar quadrilheiros tão ilustres.
Ele está formatado para apreciar transgressões, principalmente as no campo penal, dos três pês: pretos, pobres e putas. Gente poderosa, branca, rica e bem nascida sempre passaria ao largo das vicissitudes a que estão constrangidas as vastas maiorias do país.
Boas amizades, cofres bem fornidos e advogados bem relacionados permitiriam àqueles que não se enquadram nas categorias raciais, econômicas e ocupacionais degradadas enfrentar com garbo e tranquilidade eventuais ameaças às suas liberdades e direitos civis.
Poderiam, então, ostentar sorrisos de desdém, como bem exemplificou o cínico professor Delúbio Soares, quando profetizou anos atrás que o mensalão daria em nada; acabaria virando piada de salão.
Mais insólito ainda que trancafiar a quadrilha foi a configuração dos personagens que participaram do referido processo. Nas varas penais o mais usual é encontrar pretos, pardos e mulatos sentados no banco dos réus. É quase que um destino, é verdadeira maldição, a qual o sistema judiciário concretiza com gosto e eficiência. Mas no caso do mensalão, o único preto envolvido no imbróglio ocupava o lugar destinado aos julgadores.
Realmente, causou espanto a subversiva situação que o maravilhoso acaso propiciou aos brasileiros. O relator foi escolhido por sorteio. Extrema má sorte dos bandidos; pode ser praga de mãe, nunca se saberá, ou de padre, igualmente poderosa.
Pior ainda é praga de mãe de santo (esnobaram uma na comitiva que foi às exéquias de João Paulo II). Imagine-se se, em vez do ministro Joaquim Barbosa, a condução do processo do mensalão estivesse com o ministro Levandowski! O papelório estaria condenado a apodrecer nos arquivos, sendo devorado pelas traças e pelo tempo.
Ao atrevido inconformismo dos bandoleiros com a condenação propiciada pela mão justa, e pesada, de Joaquim Barbosa se ajuntou o dos parceiros e simpatizantes da quadrilha, que não se cansam de achincalhar o correto presidente do STF. Até imagens comparando-o a um macaco se difundiu pelas mídias sociais.
A alma racista dessa gente se revelou, assim, em toda sua amplitude, mal encoberta por proclamações mentirosas a favor da democracia racial. Pesquisas de opinião recentes, no entanto, indicam o apoio popular ao ministro, neutralizando a vergonhosa omissão dos que se imaginam lideranças do povo negro brasileiro, capachos habituais da Casa Grande sempre à espera de agrado ou afago do sinhô. Ministros e autoridades negras se recolheram ao papel de mamelucos, mercenários infames, sempre a serviço dos que mandam”.
20 de dezembro de 2013
ANTÔNIO MACHADO DE CARVALHO, O tempo
Boas amizades, cofres bem fornidos e advogados bem relacionados permitiriam àqueles que não se enquadram nas categorias raciais, econômicas e ocupacionais degradadas enfrentar com garbo e tranquilidade eventuais ameaças às suas liberdades e direitos civis.
Poderiam, então, ostentar sorrisos de desdém, como bem exemplificou o cínico professor Delúbio Soares, quando profetizou anos atrás que o mensalão daria em nada; acabaria virando piada de salão.
Mais insólito ainda que trancafiar a quadrilha foi a configuração dos personagens que participaram do referido processo. Nas varas penais o mais usual é encontrar pretos, pardos e mulatos sentados no banco dos réus. É quase que um destino, é verdadeira maldição, a qual o sistema judiciário concretiza com gosto e eficiência. Mas no caso do mensalão, o único preto envolvido no imbróglio ocupava o lugar destinado aos julgadores.
Realmente, causou espanto a subversiva situação que o maravilhoso acaso propiciou aos brasileiros. O relator foi escolhido por sorteio. Extrema má sorte dos bandidos; pode ser praga de mãe, nunca se saberá, ou de padre, igualmente poderosa.
Pior ainda é praga de mãe de santo (esnobaram uma na comitiva que foi às exéquias de João Paulo II). Imagine-se se, em vez do ministro Joaquim Barbosa, a condução do processo do mensalão estivesse com o ministro Levandowski! O papelório estaria condenado a apodrecer nos arquivos, sendo devorado pelas traças e pelo tempo.
Ao atrevido inconformismo dos bandoleiros com a condenação propiciada pela mão justa, e pesada, de Joaquim Barbosa se ajuntou o dos parceiros e simpatizantes da quadrilha, que não se cansam de achincalhar o correto presidente do STF. Até imagens comparando-o a um macaco se difundiu pelas mídias sociais.
A alma racista dessa gente se revelou, assim, em toda sua amplitude, mal encoberta por proclamações mentirosas a favor da democracia racial. Pesquisas de opinião recentes, no entanto, indicam o apoio popular ao ministro, neutralizando a vergonhosa omissão dos que se imaginam lideranças do povo negro brasileiro, capachos habituais da Casa Grande sempre à espera de agrado ou afago do sinhô. Ministros e autoridades negras se recolheram ao papel de mamelucos, mercenários infames, sempre a serviço dos que mandam”.
20 de dezembro de 2013
ANTÔNIO MACHADO DE CARVALHO, O tempo
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