"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 28 de dezembro de 2013

O BRASIL E O "CABELOGATE"

 
 
Há uma dúvida frequente no noticiário político: a corrupção no Brasil aumentou em relação ao registrado em tempos passados?
 
É impossível responder. Não existe um "corruptômetro" nem uma medição confiável do que se passava no país durante a ditadura militar (1964-1985) ou antes. Como a maioria das pessoas tende a edulcorar o passado, preferindo as boas às más lembranças, muitos acham que hoje a corrupção aumentou na política.
 
Desconfio dessa avaliação, agora muito em voga após a repórter Andréia Sadi relatar o "cabelogate" do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) --ele usou um jato da FAB para ir ao Recife e se submeter ao implante de 10.118 fios de cabelo.
 
É verdade que no passado não havia tal tipo de tratamento para alopecia. A FAB tampouco tinha jatos à disposição para passeios particulares de políticos. O país era outro. Lei de Acesso à Informação e Lei de Responsabilidade Fiscal eram apenas abstrações. Também não existiam milhões de brasileiros com celulares fotografando tudo o que se passa.
 
Há hoje uma transparência inaudita sobre autoridades e políticos em geral. É sempre possível melhorar. Mas aumentou muito o acesso da população ao que se passa por trás das portas dos gabinetes de Brasília.
 
Tome-se o "cabelogate" de Renan Calheiros. A FAB publicou os dados na internet. Qualquer pessoa pode investigar. Há alguns anos, convescotes aéreos de ministros em Fernando de Noronha eram quase secretos.
 
A frequência atual com que políticos são apanhados em situação irregular tem ligação direta com a maior sofisticação das ferramentas de controle e com o fato de o Brasil ser hoje mais transparente.
 
Não seria, é claro, o caso de comemorar o implante dos 10.118 fios de cabelo do presidente do Senado nas asas da FAB. Só que o Brasil não está mais ou menos torto por causa desse episódio. O país e suas mazelas apenas ficaram mais visíveis a todos.
 
28 de dezembro de 2013
Folha S.Paulo

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