"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

OS ESQUECIDOS

           
          Notícias Faltantes - Foro de São Paulo 
O que a Colômbia ignora é que estes processos e condenações obedecem a uma astuta estratégia das FARC, que agora conseguem golpear os melhores oficiais do Exército movendo suas fichas na trama judicial.

Acabo de encontrar muitos deles no CRM (Centro de Reclusão Militar). Salvo suas famílias e amigos mais próximos, ninguém lembra deles: nem o Governo, nem os políticos, nem as ONG, nem tampouco os meios de comunicação.
As FARC têm hoje mais opções de ser beneficiadas pela justiça que os valiosos e sofridos militares (pois é a eles que me refiro), injustamente condenados ou detidos por obra de testemunhas falsas. Todos eles enfrentam na solidão e no silêncio seu terrível destino. Comprovei depois de visitar durante dois domingos seguidos o Centro de Reclusão Militar que existe em Puente Aranda.
 
Meu guia mais inesperado nessa visita foi o coronel Hernán Mejía Gutiérrez. A sua foi uma heróica carreira militar. Em três dos muitos encontros que teve com a guerrilha (primeiro no Palácio de Justiça, mais tarde no município Silvia, no Cauca, e depois em Morelia, no Caquetá) recebeu sete feridas de bala. Foi condecorado como o Melhor Soldado da América. Não obstante, agora o encontro no CRM condenado a 19 anos de prisão. Como explicar isso?
 
Pois é inexplicável. Sua condenação é tão aberrante quanto a do coronel Alfonso Plazas Vega. O caso de Mejía Gutiérrez baseia-se também em um falso testemunho: o de Edwin Manuel Guzmán Cárdenas, um sargento ao qual ele enviou à prisão em Valledupar quando descobriu que roubava armas e munições para vendê-las tanto à guerrilha quanto aos para-militares.
Ao sair da prisão, Guzmán voltou a suas velhas andanças como chefe de um bando dedicado ao roubo e tráfico de armas. Detido em Villavicencio, conseguiu se fazer passar como desmobilizado das AUC (Autodefensas Unidas de Colombia) e obter como tal os benefícios da lei.
 
Cumprindo um propósito de vingança, deu à revista Semana uma entrevista na qual acusava o coronel Mejía Gutiérrez de ter nexos com “Jorge 40”. Tomando tal boato como uma revelação, a revista lhe deu a capa com o cruel título “De herói a vilão”.
E aí abriu-se o arbitrário processo contra Mejía. Guzmán, por certo, vendo os benefícios que lhe reportavam seus boatos, serviu de testemunha contra a Drummond e outros destacados casos, até que o então promotor Mario Iguarán o denunciou como membro de um cartel de falsas testemunhas. Expulso também dos Estados Unidos ao se descobrir suas falsidades, Guzmán voltou ao país e hoje rumora-se que lidera um bando em La Guajira.
 
Por testemunhas falsas como este foram vítimas de injustas condenações outros militares de desempenho notável nas Forças Armadas, como o coronel Plazas Vega e os generais Rito Alejo del Río, Uscátegui, Arias Cabrales e muitos oficiais mais. No CRM fervem casos parecidos.
O do coronel Álvaro Tamayo, por exemplo, ajudante do presidente Uribe, acusado por um sub-oficial ao qual sancionou e fez retirar da instituição, ou o do major Luis Fernando Campuzano, condenado pela Corte Suprema de Justiça, em que pese ter sido absolvido em primeira e segunda instâncias pelo Tribunal Superior de Cúcuta. Mais insólito ainda, é o caso do sargento Aureliano Quejada, condenado a 19 anos por fatos ocorridos no estado do Cesar, quando ele se encontrava prestando serviços no Sinaí.
 
O que o país ignora é que estes processos e condenações obedecem a uma astuta estratégia das FARC, que agora conseguem golpear os melhores oficiais do Exército movendo suas fichas na trama judicial. As formas desconhecidas de sua nova guerra projetam-se nos planos político, midiático, cibernético, jurídico e diplomático.
São tão reais seus êxitos que as FARC estão longe de se considerar derrotadas, como acredita o presidente Santos. Ao contrário, por culpa dos golpes judiciais sofridos muitos de nossos militares consideram que a guerra já está perdida. A prova emblemática de tal derrota são estes homens esquecidos que alguma vez arriscaram sua vida pela pátria.
 
03 outubro de 2013
Plinio Apuleyo Mendoza
Tradução: Graça Salgueiro

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