"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 26 de outubro de 2013

"LE MONDE" COLOCA DILMA COMO BODE EXPIATÓRIO DE PROTESTOS DOS BRASILEIROS

 
  • Folhapress
    A presidente Dilma Rousseff discursa durante cerimônia de inauguração de escolas em Belo Horizonte: no olho do furacão A presidente Dilma Rousseff discursa durante cerimônia
  • de inauguração de escolas em Belo Horizonte: no olho do furacão

A cena se tornou cotidiana, quase comum. Centenas de pessoas expressando seu descontentamento para depois serem dispersadas sob efeito de gás lacrimogêneo, lançado nos confrontos entre grupos mascarados e uma polícia brasileira brutal como sempre.
No Rio de Janeiro, na última segunda-feira (21), foi contra o leilão de uma jazida de petróleo em alto mar. Os professores do ensino público, em greve há 79 dias, acabaram de votar, na quinta-feira, pela volta às aulas. Os bancários suspenderam suas atividades por semanas, e até a polícia militar protestou por um aumento de salário.
 
A longa lista expressa bem o elusivo clima social do momento. "As autoridades estão tendo dificuldades para encontrar uma resposta inicial às reivindicações multiformes ouvidas desde o movimento de protestos de junho, não houve nenhuma reforma de envergadura até o momento", afirma Carlos Vainer, coautor de "Cidades Rebeldes" (Ed. Boitempo). "A força da criação política se esgotou", diz Vladimir Safatle, professor de filosofia da Universidade de São Paulo. "É uma situação excepcional, totalmente inédita desde o fim da ditadura (1964-1985). Estamos vivendo uma crise de representação onde os partidos não conseguem avaliar o nível de insatisfação da população. Essa impotência política leva a protestos e à radicalização."

 Na linha de frente, a presidente Dilma Rousseff, herdeira de Luiz Inácio Lula da Silva, no poder há dois anos e meio, de repente se transformou em bode expiatório, alvo do repúdio exprimido por quase um milhão de pessoas no auge dos protestos.
Em queda livre nas pesquisas, ela tentou impor uma ampla reforma de um sistema político que para a maioria dos manifestantes se tornou um símbolo intolerável de corrupção e de clientelismo. A proposta foi cortada pela raiz por uma grande maioria de deputados e senadores. Rousseff prometeu voltar a ela após as eleições presidenciais de 2014, mas mesmo dentro do PT (Partido dos Trabalhadores), houve quem fosse contra tal iniciativa.

 No início de julho, a presidente lançou o programa "Mais Médicos", que prevê o envio de centenas de médicos estrangeiros e quase 3.500 cubanos para essas regiões mais pobres onde os médicos brasileiros se recusam a se instalar. A iniciativa, que deveria dar uma primeira resposta aos protestos de junho que haviam colocado em evidência as insuficiências em matéria de saúde, de transporte público e de educação, havia sido elaborada vários meses antes do estouro da revolta.

 Quando as autoridades lembraram que todos os royalties resultantes da venda da maior jazida de petróleo do Brasil iam ser destinados à educação (75%) e à saúde (25%), elas não explicaram que essa divisão havia sido elaborada antes de 2013. Os lucros só deverão entrar nos cofres do Estado daqui a sete ou oito anos. "As pessoas não são bobas", diz Safatle. Nas pesquisas, a presidente se recuperou um pouco, com 38% de aprovação, bem longe dos 58% que tinha antes do início dos protestos.

 De personalidade complexa e reservada, Rousseff suavizou seu discurso e fez diversas reuniões com os líderes do Congresso que ela havia perigosamente negligenciado. Ela reativou sua conta no Twitter e criou uma página no Facebook para se reaproximar das redes sociais que, segundo pessoas próximas, tanto a maltrataram.
 
Ainda hoje, Rousseff venceria as eleições presidenciais em qualquer situação. Mas a maioria dos observadores preveem uma corrida mais aberta desde que foi anunciada no dia 6 de outubro a surpreendente aliança entre Eduardo Campos, líder do PSB (Partido Socialista Brasileiro), e Marina Silva, segunda colocada na eleição presidencial de 2010 e cuja candidatura à eleição de 2014 foi entravada pela recusa da Justiça em legalizar seu partido político. Os dois são ex-membros de governos de coalizão de Lula e essa associação é um reflexo do desgaste do PT, no poder há quase onze anos.
 
Um PT criado em 1980 e que, pela primeira vez, se encontra "não ao lado de um movimento social, mas sim do lado contrário do povo", observa Fernando de Barros e Silva, diretor da revista "Piauí". "O único partido verdadeiramente popular que o Brasil conheceu se transformou em um representante do establishment, contra o qual hoje as pessoas se revoltam," ele diz.

 As gigantescas obras para a Copa do Mundo de 2014 agravaram o sentimento de exclusão e reavivou o trauma da corrupção. O PT acentuou uma crise de representação. Essa constatação talvez explique a recente tirada de Lula no jornal espanhol "El País", onde ele afirmou que esses movimentos de protestos são "saudáveis". "Eu gostaria que não nos esquecêssemos para quê fomos criados..."
 
Durante uma mesa-redonda organizada no Rio pelo jornal "O Globo", o editorialista Merval Pereira, o ex-deputado do PT Chico Alencar e o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro concordaram: "As manifestações perderam força em relação a junho, mas elas podem voltar a qualquer momento."

26 de outubro de 2013
Nicolas Bourcier, do Rio de Janeiro
Tradutor: Lana Lim
 
NOTA AO PÉ DO TEXTO
 
Interessante! Bode expiatório? Por que bode expiatório, se ele fez parte do governo lulopetista?!
m.americo

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