Quebrar vidraças, incendiar latas de lixo e destruir lanchonetes tornaram-se atos políticos de forte apelo.
Com seus smartphones com transmissão de dados em alta velocidade, nossos niilistas vão às ruas virar e queimar carros para, em seguida, postar suas fotos radicais no Facebook. Se conseguirem a atenção da mídia, que fingem odiar, aí o ato vira uma apoteose.
O curioso é que eles reivindicam a violência como um posicionamento político legítimo e representativo. O discurso tem nuances robin-hoodianas: o poder público, fontes de todos os males, vira alvo da desforra como forma de restituir a paz e a justiça social aos oprimidos.
Não é preciso ser um cientista político para perceber que eles não representam nem restituem nada a ninguém.
Sob a máscara do radicalismo libertário, nossos camisas negras prestam um desserviço aos desfavorecidos. Autoritários e truculentos, trabalham para entupir os canais de diálogo, reivindicação e protesto legítimos e assegurados. Ao afugentar quem realmente exige mudança dos governos, ajudam a despolitizar e desmobilizar as pessoas. No fundo, são uns reacionários.
O problema é que o delírio arruaceiro tem ultrapassado os limites da desordem. Eles protestam cometendo crimes. A mistificação da violência enquanto instrumento regenerador da política é uma das lembranças mais nefastas do século 20. Somente um idiota, alienado e temerário, pode se orgulhar de uma postura dessas.
Ao contrário dos milhares que saíram às ruas em junho exigindo uma democracia mais republicana, esses caras não querem transformar coisa alguma. Eles se alimentam dessas fantasias íntimas de protagonismo e poder, como se vivessem numa noite dos cristais particular. Ideias aproveitáveis eles não têm nenhuma. São bons mesmo em partir vidraças.
30 de outubro de 2013
José Aníbal é economista e ex-presidente do PSDB.
O Globo
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