O senador Major Olímpio (PSL-SP), líder do partido no Senado Federal, ironizou ao Globo o “banco de talentos” anunciado pelo governo Bolsonaro para receber indicações políticas para cargos do segundo e terceiro escalão do governo, um de diversos acenos feitos a parlamentares mirando na aprovação da reforma da Previdência.
— Cada um vai fazendo a mudança e dar o nome que quer, né. Eu achei até engraçado, banco de talentos, falei nossa senhora, tucanaram o apadrinhamento (risos). Como é que é o nome, banco de talentos? Tá bom, vai. Eu só posso achar que continua sendo indicação política da mesma forma. Bota o nome engraçadinho que quiser.
TUCANAR – O líder do PSL explicou, ainda, o que quer dizer com tucanar: “Essa coisa do tucanar é dar um nome distinto. Falavam “não temos propina, temos participação política”. Banco de talentos? Agora ficou bom, né (risos). Até então ninguém que era indicado tinha talento, agora será com base em um banco de talentos… Me desculpa, mas eu tenho que sorrir oficialmente (risos). Na hora que você souber como faz a inscrição nesse banco vou tentar arrumar algum amigo talentoso”.
Através do sistema proposto pelo governo, parlamentares poderiam indicar cerca de mil nomes para cargos de segundo escalão nos estados. Líderes do Congresso se queixam de que Bolsonaro está tentando disfarçar indicações políticas e, portanto, as tratando como se fossem sempre problemáticas.
É ESTRANHO… – Para o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio (SP), o procedimento do banco de talentos é “estranho” e, se a intenção for apenas fazer uma triagem no histórico da pessoa, não seria necessário criar um novo sistema. A pessoa pode ter talento e não ter comportamento ético adequado, argumenta.
“Para dizer o mínimo, é um procedimento estranho, porque em todas as vezes que você busca conhecer o histórico de uma pessoa para nomeá-la, a sua história de vida ética e profissional é sempre muito bem-vinda, para cargo de servidor ou comissionado. Mas criar um banco de talentos, primeiro, você vai ficar restrito àqueles talentos. E, segundo, você tem que levar em consideração que às vezes a pessoa tem uma grande talento, mas não tem a confiança do gestor” — disse Sampaio.
MAIS IRONIAS – Na última sexta-feira, o presidente do Senado, David Alcolumbre (DEM-AP), também ironizou o banco e disse que é o mesmo que indicação política. “Os outros não tinham talento? As pessoas também tinham talento antes”, disse a jornalistas.
Líder de um dos partidos que o governo deseja ter em sua base, e que hoje se considera independente, o Podemos, o deputado José Nelto (GO) diz que o banco de talentos em articulação pelo Planalto não existe.
“Esse banco de talentos é uma balela. Não existe. Todo mundo que indica alguém, indica como talento, não como ladrão, como corrupto, como incompetente. Quando a classe política indica alguém, tem de estar preparado: passar pela Abin, ter certidões negativas, conduta ilibada. Ninguém vai se submeter a esse banco de talento.
UM NOVO ERRO – Para ele, a assessoria política errou mais uma vez com o Parlamento. “Governo tem de largar de hipocrisia. Se pensou que ia dar uma notícia boa para a opinião pública, se deu mal. O governo tem que ser sincero. Quem quiser ser da base, faz suas indicações. Isso é um jogo republicano, democrático, normal. Você não pode indicar é corrupto. Tem gente que tem um supertalento para roubar”, assinala.
Nelto diz que está preocupado porque “temos de votar a pauta econômica até o fim do ano e, em 60 dias, o governo não mostrou nada”.
27 de fevereiro de 2019
Natália Portinari e Amanda AlmeidaO Globo
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