A política é uma atividade movida a promessas, mentiras e ilusões. Nada tem de meritocracia, muito pelo contrário, qualquer um pode se eleger, não existem critérios bem definidos, conforme se constatou na eleição de Donald Trump, que representou um verdadeiro aborto da natureza, embora a adversária Hillary Clinton fosse muito fraca. Aqui no Brasil, aproxima-se mais uma eleição presidencial, em meio a uma crise política, econômica e social de muita gravidade, e ninguém sabe o que pode acontecer, porque o poder está acéfalo, o presidente Michel Temer não manda nada, está apenas esquentando a cadeira para o próximo ocupante.
Apesar da proibição legal, a campanha para presidente já nas ruas e uma considerável parcela do eleitorado defende abertamente uma intervenção militar, conforme se constata na liberdade editorial da internet, onde há grande número de sites e blogs destinados a propagar essa tese.
SÃO POUCOS – Os militaristas fazem muito barulho, mas são poucos e podem até ser recenseados, pois quase todos apoiam a candidatura do capitão reformado Jair Bolsonaro. Alimentam a falsa ilusão de que, caso eleito, o candidato do PSL poderá promover reformas profundas. E, se não conseguiu concretizá-las, terá forças para convocar as Forças Armadas.
“Isso não ecziste”, diria o padre Oscar Quevedo, com seu sotaque castelhano. É realmente um sonho maluco, pois a possibilidade de intervenção militar simplesmente não tem condições de se concretizar, conforme deixaram claro o juiz Sérgio Moro, o ministro Luís Roberto Barroso e o pré-candidato Ciro Gomes, ao fazerem palestras em Harvard num seminário conjunto organizado pelos estudantes brasileiros dessa universidade e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
MARXISMO MILITAR – Na confusa política brasileira, o mais interessante é que os defensores da intervenção militar são ferrenhos anticomunistas. Em seu furor uterino pelo capitalismo, eles não percebem que não há nada tão marxista quanto as organizações militares, que cultivam a meritocracia e as oportunidades iguais, nelas não há favorecimentos, todos têm idênticas chances de progressão profissional, recebem tratamento comum, são atendidos pelos mesmos médicos e hospitais. Ora, amigos, se esse sistema for transposto para a nação, estaremos em pleno marxismo, que maravilha viver, diria Vinicius de Moraes.
É impressionante que muitos militares não percebam esta realidade e se proclamem anticomunistas. Minha ironia não chega a tanto, caio na gargalhada quando leio críticas ao marxismo que partem de chefes militares, logo eles, que praticam as teorias comunistas (do bem comum) na caserna e em família, mas não conseguem racionalizar a realidade que os cerca, parecem analfabetos funcionais em termos ideológicos.
MARXISMO RELIGIOSO– Há duas semanas, ao trocar ideias com um amigo antimarxista de sólida formação cristã, eu lhe disse que todo militar e todo religioso é muito mais comunista do que capitalista. Ele ficou espantado e impressionado com minha observação, porque não há como refutá-la, a realidade dos fatos não admite dupla interpretação.
Na minha condição de defensor de um marxismo adaptado ao mundo de hoje (nada a ver com Stalin, Pol Pot, Fidel Castro, Mao Tsé Tung etc.), sonho com um sistema político-administrativo em que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades em termos de ensino; a assistência médico-hospitalar seja igual para todos, sem planos de saúde; a meritocracia e a produtividade prevaleçam nos ambientes de trabalho; todas as famílias tenham direito a um teto sólido, protetor e salubre; os moradores de rua e excluídos sejam amparados pelo poder público; os criminosos trabalhem em colônias agrícolas e presídios-indústrias, para serem remunerados e se socializarem. Simples assim.
###
P.S. 1 – Na minha concepção, não haveria planejamento central, prevaleceria o livre empreendimento, com burocracia mínima e garantia do direito ao lucro.
P.S. 1 – Na minha concepção, não haveria planejamento central, prevaleceria o livre empreendimento, com burocracia mínima e garantia do direito ao lucro.
P.S. 2 – Sonho também com bancos estatizados, que não visem ao lucro pelo lucro e não cobrem 450% ao ano quando o brasileiro atrasar o pagamento do cartão de crédito. Em tradução simultânea, eu sonho com um misto de capitalismo e marxismo, que é justamente o sistema praticado nas instituições militares e religiosas. Mas quem se interessa? (C.N.)
18 de abril de 2018
Carlos Newton
Nenhum comentário:
Postar um comentário