A prisão de três amigos do presidente Michel Temer e a possibilidade de a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciá-lo no inquérito dos portos podem provocar uma debandada de aliados da base do governo e dificultar, até mesmo, a reforma ministerial. Quem pensava em sacrificar a eleição para assumir cargos na Esplanada passou o dia de ontem reavaliando a estratégia. Com a base enfraquecida e a quatro meses da campanha, ninguém aposta que Temer vai conseguir evitar que o Congresso autorize o Supremo a abrir processo contra ele.
Ministros do núcleo duro do governo passaram a tarde de ontem reunidos revendo o xadrez ministerial. Avaliam dar maior poder aos partidos para garantir o apoio deles ao presidente Temer.
NA FOGUEIRA – O Planalto está apreensivo por não saber como os deputados vão voltar do feriado de Páscoa. Temem que, sensibilizados pelos eleitores, retornem dispostos a jogar o presidente na fogueira.
No voo para Vitória, nesta quinta-feira, o presidente Michel Temer disse que achava injusto prenderem pessoas próximas a ele para atingi-lo. Temer viajou para o Espírito Santo depois de a PF deflagrar a operação. Estava inquieto e disparou vários telefonemas. Ficou indignado, sobretudo, com a prisão de José Yunes, que “fala até quando não é perguntado”.
O CULPADO – Na tentativa de encontrar um culpado, sobrou para o ministro da Articulação Política, Carlos Marun. Ele foi acusado por ministros e deputados da base aliada de ter provocado as prisões de três amigos de Temer. Na teoria dos governistas, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, determinou as prisões em resposta às ameaças de Marun de pedir seu impeachment. O mínimo que se ouviu sobre Marun no Palácio do Planalto ontem é que agiu como um “destrambelhado”.
Na Polícia Federal, delegados entenderam como ciumeira o MP ter divulgado nota apenas para informar que os pedidos de prisão na Operação Skala partiram da procuradora Raquel Dodge. A PF tem protagonizado a investigação e conseguiu autorização para quebrar o sigilo de Temer. Já a PGR demorou a se manifestar, levantando dúvidas sobre a prioridade que daria ao inquérito.
31 de março de 2018
Andreza Matais
Coluna do Estadão
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