"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

MEMÓRIA DA IMPRENSA - "CORREIO DA MANHÃ", UM JORNAL QUE DIGNIFICAVA A OPOSIÇÃO


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Primeira página do CM, no dia 31 de março de 1964
Este texto é totalmente fruto da magnífica pesquisa feita por Carlos Eduardo Leal, que cita como fonte o próprio “Correio da Manhã”, que mostra a trajetória daquele que foi um dos mais importantes órgãos da Imprensa brasileira. Pouquíssimas alterações foram feitas no excelente texto de Carlos Eduardo e todos os créditos a ele são devidos. Fiz apenas uma edição para permitir sua publicação no Blog.
O “Correio da Manhã” era uma espécie de frente organizada para opor-se à situação. Admitindo colaboradores das mais diversas tendências, como o conde Afonso Celso, monarquista, e Medeiros e Albuquerque, simpatizante do florianismo, o fundador Edmundo Bittencourt empenhava-se no entanto em recusar caráter neutro a seu jornal. Sua personalidade funcionava como uma espécie de denominador comum entre as diferentes opções políticas de seus colaboradores, constituindo a verdadeira força motriz que impulsionava o “Correio da Manhã” em sua primeira fase. Essa
Mantendo-se sempre avesso tanto à neutralidade quanto ao compromisso partidário, durante o governo de Rodrigues Alves (1902-1906) o “Correio da Manhã” aplaudiu a nomeação de Pereira Passos para a prefeitura do Distrito Federal, por considerá-lo homem “sem ligações partidárias e que se tem distinguido principalmente como administrador”. No entanto, não tardaram as críticas à maneira violenta pela qual era aplicada a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, o que deu margem a uma revolta orientada ideologicamente pela oposição.
REVOLTA DA VACINA – Essa atitude do Correio da Manhã diante da vacinação obrigatória refletia a posição do jornal frente a um fenômeno mais amplo, o do desenvolvimento urbano-industrial do Rio de Janeiro verificado sob o governo Rodrigues Alves. Assim como as medidas de saneamento, a remodelação da cidade iniciada em 1903 tendeu a atingir sobretudo os setores mais desfavorecidos da sociedade.
Na verdade, o jornal, apoiando os setores menos favorecidos, não fazia mais que arregimentar elementos para constituir aquilo que se poderia denominar uma clientela urbana. Essa clientela iria dar conta da tradição legalista do “Correio da Manhã” daí em diante: a orientação oposicionista, baseada no respeito incondicional à letra da lei, atacando qualquer forma de intervencionismo do Estado e pugnando pelo primado dos preceitos liberais, tendia a cristalizar-se.
Ao se comemorar o 15º aniversário da República, o jornal lamentou que essa forma de governo não tivesse, ao menos no Brasil, o conteúdo liberal esperado, pois se havia convertido em “regime de insuportável opressão e tirania”.
DUELO DE MORTE – Em 1906, sentindo-se ofendido por matéria assinada por Edmundo Bittencourt, o senador Pinheiro Machado desafiou para um duelo o proprietário do Correio da Manhã, que saiu ferido do embate. O episódio foi significativo, na medida em que definiu com rigor a linha política oposicionista do jornal, sobretudo levando-se em consideração a posição governista do
senador durante a Revolução Federalista.
Por outro lado, no momento em que Hermes da Fonseca se declarou candidato, renunciando à pasta da Guerra, Rui Barbosa, que ainda não havia lançado sua candidatura, manifestou-se contrário à eleição do ex-ministro. O “Correio da Manhã” alegou então não haver “quem ignore no país o velho desejo que tem o sr. Rui de ser presidente da República”. A ligação do Correio da Manhã com Hermes da Fonseca era o reflexo da aproximação de determinados setores civis com o Exército.
APOIO A RUI BARBOSA – O rompimento de Hermes com a situação pareceu ter favorecido o apoio que o jornal lhe conferiu inicialmente. O marechal era o candidato defendido por “cidadãos fora dos círculos partidários”, não estando portanto comprometido com interesses oligárquicos.
No entanto, após a convenção de maio, que confirmou a indicação de Hermes, a posição do “Correio da Manhã” sofreu uma alteração radical, passando a encampar a candidatura de Rui Barbosa.
No momento em que Rui Barbosa confirmou sua candidatura, em agosto de 1909, o jornal ingressou a seu lado na Campanha Civilista. A partir de então, Hermes da Fonseca passou a ser considerado “o candidato dos analfabetos”. De toda forma, realizadas as eleições em março de 1910, foi ele o candidato vitorioso.
NA OPOSIÇÃO – Com a posse de Hermes da Fonseca em 15 de novembro de 1910, o “Correio da Manhã” passou a chefiar a oposição. Além de criticar o presidente por não ter cumprido sua
promessa de anistiar os implicados na revolta dos marinheiros liderada por João Cândido, o jornal criticou também a incapacidade de Hermes da Fonseca diante da hegemonia de Pinheiro Machado no Senado. A sina do jornal era ser de oposição.

17 de janeiro de 2018
José Carlos Werneck

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