O jornal do sr. Frias faz o seu habitual servicinho sujo ao tentar me pintar com os traços do típico ideólogo literário ou acadêmico, sempre ansioso para fazer a cabeça de algum político e governar por procuração.
Meses atrás o deputado Eduardo Bolsonaro me perguntou se eu teria a disposição de receber a visita do seu pai e dar-lhe algum aconselhamento. Concordei, como concordaria em fazer o mesmo por qualquer candidato atual ou virtual a qualquer cargo, já que o tenho feito por centenas de brasileiros que nunca foram nem serão candidatos a coisa nenhuma.
Depois fui informado de que o meu amigo Jeffrey Nyquist estaria interessado em participar da conversa, pedindo que ela se realizasse em Nova York, onde ele estaria em meados de outubro.
Até então, eu estava seguro de que seria um encontro privado, no qual eu estaria livre para dizer o que bem entendesse, sem qualquer compromisso ou intenção de reforçar a propaganda eleitoral de quem quer que fosse.
De repente, a coisa aparece na Folha de São Paulo como um debate público, iniciativa do Inter-American Institute e parte integrante de um programa de contatos do sr. Jair Bolsonaro com empresários e políticos americanos, num tom evidente de pré-campanha eleitoral.
O Jeffrey, que é o atual presidente do Inter-American, pode de fato ter associado a entidade à iniciativa do encontro, mas isso, em princípio, não modificaria retroativamente a minha intenção de que fosse apenas um encontro privado.
À sua versão manifestamente falsa dos acontecimentos, o jornal acrescentava ainda as cores de uma fofoca política vulgar e provinciana, ao afirmar que eu andava “flertando” com a candidatura Bolsonaro. O verbo é usado comumente na mídia para designar interesseiros que assediam candidatos com a esperança de um cargo no próximo governo. Jamais me ocorreu que responder afirmativamente a um pedido de conselho fosse um “flerte”, nem muito menos que fosse possivel flertar — em qualquer sentido do termo — sem jamais procurar qualquer contato com o alvo dos meus supostos desejos e limitando-me a atender a um pedido do seu filho.
Para jogar um pouco mais de lama na água, o jornal afirmava que eu me dispunha a ser “conselheiro particular” de um possível presidente Bolsonaro, sem informar que eu havia manifestado essa disposição em resposta HUMORÍSTICA a um zunzum anônimo que fazia de mim o ministro da Cultura ou da Educação sob uma presidência Bolsonaro. Nessa resposta, eu afirmava que poderia ser NO MÁXIMO conselheiro particular do futuro presidente, COM UM SALÁRIO DE CEM REAIS POR MÊS…
A repórter da Folha, querendo posar de detentora de “inside information”, só mostra a característica impossibilidade que o analfabeto funcional tem de apreender nuances de sentido, seja nos fatos, seja nas palavras.
17 de novembro de 2017
Olavo de Carvalho
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