Na internet, a partir da década de 80, com a unificação da rede em computadores, surgiu uma nova era na informação, na interpretação e , portanto, na comunicação de modo geral. Foi um marco importante na história, o primeiro além daquele definido magistralmente por Marshall McLuhan. Mas o sociólogo canadense havia dividido a História da Humanidade em duas eras: a era do relato e a era do registro. A era do registro sucede a imprensa de Gutemberg no século XV. A era do relato antecede.
Para citar dois exemplos de momentos traumáticos na história universal podemos citar a crucificação de Jesus Cristo e o Nazismo. A crucificação é um relato. O nazismo um registro. Na época do nazismo já existiam os jornais, a fotografia e o cinema. As imagens foram incorporadas à memória universal. E também surgia em 1934 a televisão nos Estados Unidos. O nazismo surgiu em 1933 e a segunda Guerra Mundial foi desencadeada em 1939.
TERCEIRA ERA – Mas eu disse que a internet implantou uma terceira era na história da comunicação. Isso porque, a partir dela, qualquer um de nós, que possua um computador, passa a ser de receptor a emissor de mensagens. Este aspecto é essencial nos dias de hoje. As provas da essencialidade são muitas. Uma delas refere-se ao episódio de William Waack, objeto de grande repercussão nas redes sociais e de reportagem de Marcelo Maethe, Daniel Bergamasco, Filipe Vilicio, Maria Carolina Maier e Alex Xavier, na revista Veja que está nas bancas. O episódio do afastamento de William Waack do jornal da Globo e da Globonews foi abordado também por Paulo Cezarino Costa, na Folha de São Paulo deste domingo, e Demétrio Magioly, na Folha de sábado. A repercussão, portanto foi muito grande e na proporção exata do fato. Porém a questão essencial desloca-se para o poder das redes sociais.
Marcelo Marte e Daniel Bergamasco referem-se também a outros episódios que tiveram seu desfecho a partir de divulgações na internet. Entre os quais, os que envolvem o ator José Mayer, o médico Marcos Harter e o ator da série House of Cards, abrangendo também o produtor famoso em Holywood. Os dois últimos casos, relativos a assédio sexual. Aliás, o mesmo problema no qual mergulhou o ator José Mayer.
CASO WAACK – Voltemos ao capítulo relativo a William Waack. A colisão na qual Waack levou a pior refere-se a um vídeo gravado por Diego Pereira, que trabalhou na Globo até janeiro deste ano. Diogo Ferreira colocou na internet um vídeo gravado em novembro de 2016 quando William Waack , em Washington, preparava-se para comentar a vitória nas urnas de Donald Trump. Um motorista de um automóvel próximo ao local onde o repórter se encontrava começou a buzinar de forma insistente. William Waack ofendeu o motorista inquieto, inclusive pelo fato de o motorista pertencer à raça negra.
Surpreende que tal gravação tivesse chegado às mãos da direção da Rede Globo exatamente um ano depois do fato. Causa surpresa também o afastamento imediato do jornalista. Mas o que quero comentar não é apenas o acontecimento e seu desfecho. Desejo comentar a importância das redes sociais no universo da comunicação. Com a internet, como disse no início cada um passou a ser também um transmissor de notícias, deixando de ser apenas um receptor.
SEM REVISÃO – Mas a dimensão desse avanço não acaba aí. Vai além: cada pessoa pode ser um transmissor de notícias e de análises sobre quaisquer fatos e assuntos, não estando suas mensagens sujeitas ao crivo de um editor, como acontece nos jornais, nas emissoras de rádio e televisão. Nada disso. Além de transmissor cada um torna-se também editor de si mesmo. Daí a dimensão maior que se passou a atribuir à colocação de matérias nas redes sociais. O caso William Waack é um exemplo marcante. Ele, ao se desculpar , confirmou a veracidade da gravação colocada na rede,
Entretanto – eis um tema interessante –, podem ocorrer casos em que os editores de si mesmos não estejam ao lado da verdade. Em tais situações, importante assinalar, é necessário que todos nós busquemos a confirmação. E esta será sempre encontrada nos jornais impressos do dia seguinte. Seja como for, a transformação de cada um de nós, de receptor a transmissor, representa a grande página da história moderna. A informação hoje tornou-se mais rápida do que a informação de ontem.
13 de novembro de 2017
Pedro do Coutto
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