Surpreendente o comportamento do ex-ministro Geddel Vieira Lima, atitude de alguém que confessa por ação tácita a propriedade de um tesouro decorrente da corrupção. O Globo, em matéria publicada neste sábado, revela que Geddel, através de seus advogados, recorreu ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, para saber o nome de quem informou a Polícia Federal a existência dos 51 milhões encontrados no apartamento de Salvador. Geddel Vieira Lima procura saber também através de qual telefone ele foi objeto da delação.
O Ministro Edson Fachin ainda não definiu o pedido, mas se tivesse ocorrido no passado, era um caso para ser encaminhado a Conan Doyle, Agatha Christie e Ian Fleming. Isso porque é possível que tal pedido nunca tenha sido incluído em nenhuma obra de mistério policial. O inusitado é que, além da solicitação, o pedido de Gedel revela sem dúvida uma confissão por ação tácita. Pelo menos uma confissão de ser ele o dono, ou um dos donos do tesouro encontrado na capital da Bahia em notas de reais, dólares e euros.
RÉU CONFESSO – Claro. A indagação do homem que foi ministro de Lula e de Temer e no governo Dilma Rousseff tornou-se vice-presidente da Caixa Econômica Federal, ao demonstrar seu interesse oficial na descoberta, revelou sua preocupação tanto com a origem da informação quanto do destino do dinheiro. Portanto, confessou sua participação.
O singular é que na literatura policial , salvo melhor juízo, não creio haver algum personagem que através de uma Corte Suprema quisesse saber o nome de quem o delatou, tampouco o número do telefone de quem transportou a delação por um fio telefônico. É tipicamente um caso no qual o investigado quer investigar a origem do processo de delação de que foi foco. Realmente algo surpreendente.
###
A PORTARIA DA ESCRAVIDÃO, 129 ANOS DEPOIS
A PORTARIA DA ESCRAVIDÃO, 129 ANOS DEPOIS
Reportagem de Joana Cunha, Folha de São Paulo, também deste sábado, revela frontalmente a existência de trabalho escravo no Brasil, 129 anos depois da Lei Áurea. A repórter, cujo texto e fotos ocupam duas páginas do jornal, percorreu o sul da Bahia e encontrou uma série de situações nas quais o trabalho escravo se inclui. São citados nomes de homens e mulheres submetidos a situações degradantes. O pior é que o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, contrariando diretamente informações da fiscalização de seu próprio Ministério, que acusam a existência da pré-abolição em diversas áreas rurais do país, mesmo assim editou a Portaria que alcançou péssima repercussão nacional e internacional
A reportagem, com base num mapa elaborado pelo quadro técnico do Ministério, revela as áreas numa série de estados da Federação, principalmente no Pará e Minas Gerais, onde a escravatura resiste até a passagem para o século XXI.
DESCONHECIMENTO? – Os técnicos do MT produziram uma lista acusando nada menos que 131 empresas rurais. Como é possível que o titular da pasta , Ronaldo Nogueira, não tenha conhecimento?
O conhecimento no caso era sua obrigação. Mas até agora ele não revogou a Portaria escravagista. O Presidente Michel Temer contemporizou para não contrariar os interesses da bancada ruralista na Câmara dos Deputados.
A Portaria foi anulada, de fato, pelo despacho da Ministra Rosa Weber, relatora do processo no Supremo Tribunal Federal. Ao que parece somente o STF livrará o Brasil de tão vergonhoso ato.
06 de novembro de 2017
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário