"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

EX-INIMIGOS, PT E PMDB JÁ COMEÇAM A FECHAR A COLIGAÇÃO EM ELEIÇÕES ESTADUAIS


Renan e seu filho foram os primeiros a apoiar Lula
No plano nacional, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá martelar a tecla de que o impeachment de Dilma foi um “golpe”. Mas, quando subir nos palanques de ao menos seis estados brasileiros, o petista vai estar lado a lado com os “golpistas” que sempre atacou. Os exemplos mais notórios são os dos senadores peemedebistas Renan Calheiros e Eunício Oliveira, que deram votos favoráveis à saída da ex-presidente, afastada por 61 a 20 no Senado em 30 de agosto de 2016.
Mas não é só nas Alagoas de Renan ou no Ceará de Eunício que as conversas entre petistas e peemedebistas estão aceleradas para alianças nas eleições de 2018. Além desses dois, há negociações em Minas Gerais, Piauí, Sergipe e Paraná.
ALIANÇAS LOCAIS – Ao menos nesses seis estados, PT e PMDB, além de outros partidos da base que apoiaram o impeachment, já deflagraram negociações para alianças locais. Em Minas Gerais, se Dilma conseguir a vaga para disputar o Senado, o PMDB pode integrar a sua chapa. A explicação para essa aparente contradição de princípios é, acima de tudo, pragmática.
Em especial no Nordeste, onde Lula chega a ter mais de 50% segundo as pesquisas de intenção de voto, a aliança interessa aos dois lados: para o petista, ter candidatos fortes pode impulsionar ainda mais suas possibilidades; para os “ex-golpistas”, ir contra um político tão popular pode complicar as eleições.
O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), disse que no nível nacional não há negociações, mas confirmou que existem conversas informais nos estados onde os dois partidos já tinham aliança, que perduraram apesar do impeachment e da implosão das relações em Brasília.
REGRA QUEBRADA – Embora o Diretório Nacional do PT tenha proibido formalmente alianças com partidos que apoiaram o impeachment, figuras importantes dentro do partido já defendem que a regra seja revista. Em entrevista ao jornal “Estado de S. Paulo”, o presidente estadual do PT de São Paulo, Luiz Marinho, próximo de Lula, defendeu que o partido tem de derrubar a proibição.
No Ceará, Eunício já declarou voto em Lula se o PMDB não tiver candidato à Presidência, o cenário mais provável atualmente, já que o presidente Michel Temer tem menos de 10% de aprovação e não há qualquer nome competitivo dentro do partido. Segundo aliados, Eunício inclusive vem se aproximando do atual governador e candidato à reeleição, Camilo Santana (PT). A ideia é que o senador apoie a reeleição de Santana e seja o candidato ao Senado em uma chapa conjunta.
DIVISÃO EM MINAS – O governador Fernando Pimentel (PT) pode ter como vice o presidente da Assembleia mineira, Adalclever Lopes, do PMDB. O deputado estadual é cotado para ser o vice de Pimentel porque o atual, Toninho Andrade, afastou-se do governador desde o processo de impeachment de Dilma, quando Temer assumiu o comando do país.
Mas o PMDB mineiro está dividido. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputado Rodrigo Pacheco (MG), disse ao GLOBO que é contra apoiar o PT e que o partido tem que lançar candidato próprio.
A situação é parecida em Sergipe. Embora existam negociações para uma aliança, uma parte do partido tenta evitar a união. “Se eles (PT) falam mal do PMDB em nível nacional, não tem por que fazer aliança aqui no estado. Se eles (PT) quiserem apoiar a gente na proporcional, tudo bem. Mas, para compor a chapa majoritária, sou totalmente contra” — criticou o deputado Fábio Reis (PMDB-SE).
ALAGOAS E PARANÁ – Mas em Alagoas, Renan Calheiros há meses assumiu discurso de ataque ao governo Temer e se aproximou do PT e de Lula. A ruptura com Temer fez com que Renan saísse do cargo de líder do PMDB no Senado. Ele mirou, segundo aliados, na realidade de Alagoas, onde Lula tem cerca de 70% de popularidade. Segundo um aliado, Renan não poderia “brigar com a realidade” ou colocaria em risco sua campanha para o Senado e a reeleição do filho, Renan Filho, como governador.
No Paraná, as negociações são entre o senador Roberto Requião (PMDB-PR) e a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Requião é dissidente dentro do PMDB, foi contra o impeachment e constantemente conversa com Lula. Por enquanto, a ideia é que Requião seja candidato ao Senado novamente e que apoie um nome do PT para disputar o governo do estado.
PIAUÍ E PARAÍBA – No Piauí, o histórico de alianças partidárias firmadas entre PMDB e PT é antigo. Para justificar a reaproximação dos partidos no estado, o deputado Assis Carvalho (PT-PI) destacou a posição defendida pelo presidente estadual do PMDB no Piauí, Marcelo Castro, que votou contrário à abertura do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff.
Para o líder do PMDB no Senado, Raimundo Lira (PB), também existe a possibilidade de coligações entre os partidos na Paraíba. “Na Paraíba, tem viabilidade porque nosso aliado é o PSB, que é correligionário do PT. E nossa relação com o PT estadual também é historicamente boa. As informações que tenho são de que o presidente Lula não faz nenhuma restrição a esse fato. Cada estado tem uma realidade própria” — avaliou.
Com quase um ano para as eleições, as realidades tendem a se adaptar cada vez mais.

07 de novembro de 2017
Cristiane Jungblut e Patricia Cagni
O Globo

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