Já virou novela. Dia sim, outro também, Geraldo Alckmin e João Doria lavam roupa suja pelos jornais. As juras de amor e lealdade ficaram no passado. O relacionamento dos tucanos entrou naquela fase em que tudo termina em queixas e insinuações. O motivo da crise é o fato de que os dois só pensam naquilo: a Presidência da República. Como o PSDB só pode lançar um candidato, governador e prefeito passaram a se bicar como estranhos no ninho.
Se ainda havia alguma tentativa de disfarçar o mal-estar, ela foi abandonada na semana passada. Doria admitiu mudar de partido se o padrinho não abrir mão da disputa em seu favor. Alckmin se irritou e disse que o “novo” na política é “falar a verdade”.
SANTO ANTÔNIO – Mais tarde, em entrevista a uma rádio, o governador foi questionado sobre o afilhado. Sua resposta revelou o tamanho da mágoa: “Uma vez meu pai me falou: lembre-se de Santo Antônio de Pádua. Quando não puder falar bem, não diga nada”.
O deputado Campos Machado, aliado de Alckmin, foi ainda mais explícito. “Não existe nada pior no mundo do que a traição. O senhor traiu o governador vergonhosamente”, disse, em discurso dirigido a Doria.
Não é a primeira vez que o eleitor brasileiro assiste a um confronto entre criador e criatura. O ex-governador Leonel Brizola, que rompeu com sucessivas crias, costumava dizer que “a política ama a traição, mas abomina o traidor”.
AFOBAÇÃO – A novidade no conflito atual parece estar na afobação do prefeito. Apesar da overdose de exposição, Doria está no cargo há apenas oito meses e dez dias. É pouco tempo para apresentar resultados consistentes, além da espuma do marketing.
Por outro lado, Alckmin ainda não conseguiu convencer os partidos aliados de que teria fôlego para vencer a eleição presidencial. O retrospecto não o ajuda. Em 2006, ele se tornou um caso único de candidato ao Planalto que teve menos votos no segundo turno do que no primeiro.
12 de setembro de 2017
Bernardo Mello Franco Folha
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