Os bancos acenderam o sinal de alerta. Num momento em que o governo federal propõe o adiamento dos reajustes dos servidores de 2018 para 2019 e corte de benefícios e os governos estaduais atrasam o pagamento de salários, as dívidas do funcionalismo público chegaram a R$ 173 bilhões — um recorde — apenas com o consignado, quase 10 vezes mais do que os débitos dos trabalhadores da iniciativa privada, de R$ 18,1 bilhões.
Somente neste ano, as dívidas dos servidores no consignado aumentaram R$ 5 bilhões, ou R$ 715,6 milhões por mês. O problema é que muitos servidores não devem apenas no consignado, cujo desconto das prestações é feito no contracheque. Eles também estão atolados no cartão de crédito e no cheque especial. Há relatos de servidores que têm, no máximo, 20% do salário líquido disponíveis para bancar todas as demais despesas.
CASOS DRAMÁTICOS – “O superendividamento do funcionalismo é uma realidade”, afirma um técnico da Esplanada dos Ministérios. Segundo ele, há casos dramáticos, de pessoas que já esgotaram os limites de crédito dos bancos e estão vivendo com empréstimos concedidos por agiotas. “Isso é uma realidade, por mais que queiram mascarar a situação”, acrescenta. A estabilidade no emprego cria a ilusão de que nunca faltará dinheiro.
Agora preocupados, os bancos foram os maiores incentivadores do endividamento dos servidores. Montaram verdadeiras estruturas de guerra para oferecerem empréstimos a esse público. Sempre acreditaram que, como não podem ser demitidos, os servidores apresentavam riscos muito baixos de inadimplência. A crise fiscal no setor público mostrou, no entanto, que a realidade mudou muito. Há sérios atrasos de salários Brasil afora.
CALOTE – A preocupação dos bancos não é de todo descabida. Dados do Banco Central mostram que o índice de calote no crédito consignado dos servidores aumentou 0,3 ponto percentual nos últimos 12 meses, para 2,5%. Esse índice é maior do que o 1,9% observado entre os aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os juros do crédito consignado aos servidores vêm se mantendo praticamente estáveis. Pelos cálculos do Banco Central, estão em 25,9% ao ano. São os mais baixos do mercado. Entre os trabalhadores da iniciativa privada, os encargos médios chegam a 42,1% anuais.
27 de agosto de 2017
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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