José Dirceu tem a sua parcela de culpa pela defenestração do PT, assim como o maior Macunaíma do Brasil, o Sr. Lula. Agora, não adianta chorarem pelo leite derramado, que não volta para o copo. Perderam o bonde da história e arrastaram o povo para o conservadorismo do PMDB e penduricalhos da base aliada.
Numa volta rápida na história, é bom lembrar que lá pelos idos de 1982, na primeira eleição direta para governador pós-1964, o candidato Miro Teixeira, apadrinhado pelo governador Chagas Freitas, do PMDB, despontava na frente das pesquisas do Ibope. Moreira Franco, o candidato do PDS e do general Figueiredo estava em segundo, a professora Sandra Cavalcanti, do PTB, em terceiro, Leonel Brizola, do PDT, em quarto e Lisâneas Maciel, do PT, em quinto e último lugar, posição que amargou até o final.
MIRO FALOU DEMAIS – Pois bem, o cavalo paraguaio Miro Teixeira foi fazer campanha em Madureira, na Zona Norte do Rio, e em discurso inflamado desancou a “comunidade de informações” cujos arapongas serviam no SNI (Serviço Nacional de Informações) do regime militar.
Os bruxos do regime totalitário, incomodados com a crítica, resolveram retaliar Miro. Passaram a inflar outras candidaturas, na esperança de derrubar Miro e os votos da classe média migrarem para Moreira Franco. Ocorre, porém, que a candidatura de Brizola cresceu demais, atingindo o topo das pesquisas. Os estrategistas do regime militar ficaram desesperados, pois não haviam combinado com os russos (eleitor). Não adiantou nem mesmo a tentativa de golpe na apuração da Proconsult, Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro.
A derrota do governo militar foi uma magistral lição de vida, nos termos de que não se pode desconsiderar a inteligência do povo.
NOVO PERFIL – Lula e seus seguidores, incomodados com o último lugar, começaram a mudar o discurso da esquerda radical e a flertar com setores do empresariado conservador, para o PT parecer palatável aos setores produtivos. Aos poucos, foram conseguindo. Até que, em junho de 2002, Lula e José Dirceu se curvaram ao empresariado através da Carta aos Brasileiros, para vencer resistências e garantir o grande sucesso do PT na primeira vitória de Lula, alçado ao cargo de Presidente da República naquela histórica eleição.
A partir de 2003, enfim no poder, a conta foi paga religiosamente pelo PT, na forma de financiamentos para campeões nacionais (JBS, Eike etc.) no bancos estatais. Além disso, o PT garantiu apoio financeiro dos Fundos de Pensão e concedeu desonerações e isenções fiscais de toda ordem, com refinanciamento de dívidas derivadas de impostos, sem multas e em prazos longuíssimos para quitação.
Instituições privadas em dificuldades, como o Banco Pan-Americano, foram socorridas com recursos públicos. Então, pode-se chamar esquerdista ou socialista um governo que concede essas benesses?
ESQUECERAM O POVO – Como sempre, o povo ficou privado dos recursos nacionais. A Educação continuou estagnada e na mesmice de sempre, a juventude perdeu o perfil progressista, a classe trabalhadora teve sua ação controlada pelos pelegos petistas e a luta sindical passou a ser um braço do governo.
O planejamento de poder a longo prazo do PT só viria a sofrer revés com a crise econômica global de 2008, que só atingiria o Brasil em 2011, já no primeiro governo de Dilma Rousseff. Nessa época, quando o país entrou mesmo em crise, os empresários começaram a tirar o tapete do PT. Iniciou-se assim, pacientemente, a liturgia do golpe parlamentar, que culminou com o impeachment de Dilma.
Na base aliada do PT houve debandada em busca de abrigo com o futuro governo do PMDB. As traições se multiplicaram. O maior exemplo foi a atitude do deputado Pedro Paulo, que era Secretário de Administração da Prefeitura do Rio e pediu licença do cargo municipal para votar pelo impeachment de Dilma. Um caso clássico de ingratidão a quem apoiou tanto a Olimpíada do Rio.
DESLEALDADE – Vejam que inexiste lealdade no baixo mundo da podre política brasileira. O Mensalão e a Lava Jato demonstram essa assertiva. E o punhal enfiado no peito da Dilma pelos parceiros da base aliada se volta agora contra o sucessor da presidente, o vice Michel Temer.
Para escapar da prisão, operadores e empresários envolvidos na corrupção se tornam delatores e entregam os acordos efetuados na calada da noite, nos porões dos palácios, nos restaurantes, nos resorts de luxo, em hotéis e nas mansões de Brasília. Todos filmam e gravam todo mundo. Poucos políticos escapam da podridão que se transformou esse país. O desânimo começa a tomar conta da opinião pública, que nem sai mais às ruas para protestar.
Por todos esses erros, ficou demonstrado que o PT não podia mais alegar que viria para iniciar um novo ciclo de ética e participação popular. Ao contrário, o PT exacerbou as práticas anteriores, tornando-se mais conservador e corrupto do que os partidos das elites e agora caminha para o cadafalso, levando junto milhões de trabalhadores sem emprego e sem perspectiva e sem capacidade de sonhar uma vida melhor.
Em meio ao caos, se aproxima mais uma eleição e ninguém pode prever o que correrá, De toda forma, “alea jacta est” — a sorte está lançada.
28 de agosto de 2017
Roberto Nascimento
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