"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

MPF REPUDIA SUGESTÃO DE QUE MORO SERIA PRESO POR SUPOSTA AÇÃO DE AMIGO

RÉU ACUSA AMIGO DE MORO NEGOCIAR DELAÇÃO E AMPLIAR VANTAGENS

O advogado criminalista que defende 11 investigados pelo escândalo do petrolão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse neste domingo (27) que o juiz federal Sérgio Moro seria preso, se fosse alvo do mesmo rigor de suas decisões, em eventual julgamento da denúncia de que um amigo do magistrado, Carlos Zucolotto Junior, teria intermediado negociações paralelas com a força-tarefa da Operação Lava Jato, para um acordo de delação do ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Duran.

A força-tarefa Lava Jato no Ministério Público Federal em Curitiba (MPF/PR) publicou nota de repúdio à notícia sobre a suposta interferência do amigo de Moro na tentativa de acordo de delação. E o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, citado por ter Zucolloto como advogado, mandou Kakay “tomar vergonha na cara”, por especular sobre a possibilidade de prisão de Moro.
MORO LAMENTA CREDITO DADA A RELATO FALSO DE RÉU FORAGIDO (FOTO: ABR)

De acordo com reportagem da colunista da Folha de S. Paulo, Mônica Bérgamo, o advogado da Odebrecht afirma ter registros da suposta negociação para abrandamento da pena e da multa que Duran teria que pagar em acordo de delação premiada, em correspondência trocada com Zucolloto, que é advogado trabalhista, amigo e padrinho de casamento de Sérgio Moro e já foi sócio da mulher do magistrado em um escritório de advocacia.

Os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon foram citados na matéria, pela suposta coincidência de terem refeito uma proposta de delação mais branda, após a promessa que Duran disse ter sido feita por Zucolloto de "melhorar a proposta" de Pozzobom, que teria reduzido a multa de R$ 15 milhões para R$ 5 milhões e alterado o regime de prisão de fechado para domiciliar.

E Moro também se manifestou em nota, lamentando “o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido, tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria”.

‘TOME VERGONHA’


Depois de o advogado Kakay sugerir que Moro poderia provar de seu próprio veneno, sendo alvo de prisão preventiva por obstrução de Justiça, o procurador Carlos Fernando publicou o seguinte texto, em seu perfil do Facebook: “Kakay diz que Sérgio Moro deveria ser preso em decorrência das fantasias de um livro de um réu foragido, cujos trechos foram publicados em uma coluna social. Mesmo considerando os flexíveis limites éticos do ‘autoproclamado melhor advogado do país’, desta vez Kakay foi longe demais. O que cabe aqui é simplesmente lhe dizer: ‘Tome vergonha na cara’”.

Sobre a reação do procurador, Kakay declarou ao Diário do Poder que não disse que achava que cabe prisão do juiz Moro. “Disse que as decisões da Lava Jato levariam e este extremo. Mas eu jamais defenderia que cabe prisão até porque dou a todos o direito a presunção de inocência”, afirmou.

Veja o que disse o juiz Sérgio Moro, sobre as acusações:

Sobre a matéria "Advogado acusa amigo de Moro de intervir em acordo" escrita pela jornalista Mônica Bérgamo e publicada em 27/08/2017 pelo Jornal Folha de São Paulo, informo o que segue:

- o advogado Carlos Zucoloto Jr. é advogado sério e competente, atua na área trabalhista e não atua na área criminal;

- o relato de que o advogado em questão teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Duran sobre acordo de colaboração premiada é absolutamente falso;

- nenhum dos membros do Ministério Público Federal da Força Tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato não ocorreu qualquer contato;

- Rodrigo Tacla Duran não apresentou à jornalista responsável pela matéria qualquer prova de suas inverídicas afirmações e o seu relato não encontra apoio em nenhuma outra fonte;

- Rodrigo Tacla Duran é acusado de lavagem de dinheiro de milhões de dólares e teve a sua prisão preventiva decretada por este julgador, tendo se refugiado na Espanha para fugir da ação da Justiça;

- o advogado Carlos Zucoloto Jr. é meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me; e

- lamenta-se o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido, tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria.

Curitiba, 27 de agosto de 2017.

Sergio Fernando Moro

Juiz Federal

Leia a argumentação do advogado Kakay:

É claro que temos que dar ao Moro e aos Procuradores a presunção de inocência, o que este juiz e estes procuradores não fariam, mas é interessante notar e anotar algumas questões:

1-O juiz diz que não se deve dar valor à palavra de um "acusado", opa, isto é rigorosamente o que ele faz ao longo de toda a operação!

2-O juiz confirma que sua esposa participou de um escritório com o seu amigo Zucolotto, mas sem "comunhão de trabalho ou de honorários". Este fato seria certamente usado pelo juiz da 13ª vara como forte indício suficiente para uma prisão contra um investigado qualquer. Seria presumida a responsabilidade, e o juiz iria ridicularizar esta linha de defesa.

3-A afirmação de que dois procuradores enviaram por e-mail uma proposta nos mesmos termos da que o advogado, padrinho de casamento do juiz e sócio da esposa do juiz, seria certamente aceita como mais do que indício, mas como uma prova contundente da relação do advogado com a força tarefa.

4-O fato do juiz ter entrado em contato diretamente com o advogado Zucolatto, seu padrinho de casamento, para enviar uma resposta à Folha, ou seja combinar uma resposta a jornalista, seria interpretado como obstrução de justiça, com prisão preventiva decretada com certeza.

5-A negativa do tal procurador Carlos Fernando de que o advogado Zucolatto, embora conste na procuração, não é seu advogado, mas sim um outro nome da procuração, seria ridicularizada e aceita como motivo para uma busca e apreensão no escritório de advocacia.

6-O tal Zucolatto diz que trabalha com a banca Tacla Duran, mas que conhece só Flavia e nem sabia que Rodrigo seria sócio, o que, se fosse analisada tal afirmação pelo juiz da 13ª vara certamente daria ensejo à condução coercitiva.

7-E o fato simples da advogada ser também advogada da Odebrecth seria usado como indício de participação na operação.

8-A foto apresentada, claro, seria usada como prova.

9-A negativa de Zucolatto que afirma não ter o aplicativo no seu celular seria fundamento para busca e apreensão do aparelho.

10-Enfim, a afirmação de que o pagamento deveria ser em espécie , não precisaria ter prova, pois o próprio juiz admitiu ontem numa palestra , que a condenação pode ser feita sem sequer precisar do ato de oficio , sem nenhuma comprovação.

11-Ou seja, embora exista a hipótese destes fatos serem falsos, o que nos resta perguntar é como eles seriam usados pela República do Paraná? Se o tal Deuslagnol não usaria a imprensa e a rede social para expor estes fortes "indícios" que se entrelaçam na visão punitiva. Devemos continuar dando a eles a presunção de inocência, mesmo sabendo que eles agiriam de outra forma. Como diz o poeta "a vida dá, nega e tira", um dia os arbitrários provarão do seu próprio veneno.

Leia a nota da força-tarefa Lava Jato no MPF em Curitiba, publicada neste domingo:

1. A coluna de Mônica Bergamo no jornal Folha de S. Paulo deste domingo, 27 de agosto de 2017, reproduz, sem qualquer constatação de veracidade pela colunista, trechos de um "livro" fantasioso escrito por Rodrigo Tacla Duran, réu foragido da justiça brasileira.

2. Nas reuniões de negociação entre esse réu e a força-tarefa Lava Jato no Ministério Público Federal em Curitiba, Rodrigo Tacla Duran esteve sempre e exclusivamente representando pelo advogado Leonardo Pantaleão.

3. Em obediência à regra legal, o juiz federal Sérgio Moro não participou de qualquer fase das negociações do acordo de colaboração premiada.

4. Nenhum dos membros da força-tarefa Lava Jato possui ou já possuiu relacionamento pessoal ou profissional com o advogado Carlos Zucolotto Jr., citado por Rodrigo Tacla Duran. Os procuradores jamais mantiveram com Carlos Zucolotto Jr. qualquer conversa sobre esse caso ou sobre qualquer outro.

5. Durante as negociações, Rodrigo Tacla Duran revelou-se incompatível com os requisitos legais para a celebração do acordo, motivo pelo qual o MPF encerrou as negociações.

6. Rodrigo Tacla Duran foi acusado pela força-tarefa Lava Jato por crimes de lavagem de dinheiro e de pertinência à organização criminosa, e se encontra foragido do país e confinado na Espanha.

7. Os recursos ilícitos havidos por Rodrigo Tacla Duran da Odebrecht, no exterior, foram bloqueados por autoridades estrangeiras e permanecem nessa condição.

8. A força-tarefa também solicitou a prisão de Rodrigo Tacla Duran, o que foi deferido pelo juiz Sérgio Moro, sendo requerida a difusão vermelha junto à Interpol para a sua prisão no exterior.

9. Tacla Duran foi preso na Espanha e chegou a ter sua extradição autorizada para o Brasil, o que não ocorreu apenas por ausência de promessa de reciprocidade pelo governo brasileiro.

10. As inverdades propaladas por Rodrigo Tacla Duran não revelam mais do que a total falta de limites de um criminoso foragido da Justiça, acusado da prática de mais de 100 delitos de lavagem de dinheiro, cujo patrimônio – ilicitamente auferido – encontra-se bloqueado no Brasil e no exterior.

11. Diante da absoluta impossibilidade de enfrentar os fatos criminosos que lhe são imputados, Rodrigo Tacla Duran tenta desesperadamente atacar aqueles que o investigam, processam e julgam, no intuito de afastar o seu caso das autoridades que atuam na operação Lava Jato.


28 de agosto de 2017
Davi Soares
diário do poder

Nenhum comentário:

Postar um comentário