Fiel da balança no governo de Michel Temer, o PSDB vive um dilema em relação ao rompimento com o presidente da República. Mas não por estar em dúvida se o peemedebista pode ou não ser investigado por corrupção passiva. Ou pelo fato de o partido ter quatro ministros e não querer largar o osso. E sim por causa de 2018. Sonhando em subir a rampa presidencial, os caciques paulistas do partido têm duvidas se Rodrigo Maia – que assumiria em caso de afastamento de Temer – abriria alas para os tucanos na corrida presidencial ou se disputaria a reeleição.
Não à toa, os principais puxadores do ‘bloco do fico” no governo são exatamente os postulantes à cadeira de Temer: João Doria e Geraldo Alckmin. Mas, antes de mais nada, eles precisam resolver a situação no ninho tucano. Isso porque o principal obstáculo do prefeito de São Paulo é hoje o governador de São Paulo.
PRÉVIAS E PESQUISAS – Caso o padrinho político vete sua candidatura, Doria não moverá uma pena. E já avisou isso ao governador. Mas o prefeito tenta propor outra forma de definição do cenário que não as prévias contra Alckmin, como a partir do desempenho em pesquisas eleitorais.
Assim que a delação da JBS estourou, em meados de maio, Doria e Alckmin estavam nos EUA, para um evento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington. No voo de volta ao Brasil, Doria, diante da gravidade do crise política que se anunciava, ponderou se não era hora de o PSDB já se posicionar sobre o candidato em 2018.
Era uma conversa sobre política, sobre futuro. O prefeito aproveitou para reiterar a Alckmin que não disputaria prévias contra ele. E defendeu que o PSDB tomasse posição, assumindo a dianteira sobre 2018.
AINDA ERA CEDO? – E o governador? Ouviu e respondeu que ainda era cedo. E nada mais foi dito sobre 2018 no voo de volta, no melhor estilo Alckmin: tudo bem, tudo bom, mas nada decidido. Sem saber se conseguirá consolidar sua candidatura, Alckmin joga com o tempo em relação a Doria. Assim como o prefeito joga com o tempo em relação a Michel Temer.
Enquanto não se acertam internamente, aos tucanos presidenciáveis não interessa um cenário externo com um governo forte agora. Com Temer, eles têm certeza que o presidente não disputará a reeleição. Com Maia, dão dois passos atrás.
Nos bastidores, Maia critica o argumento da ala do PSDB que defende a manutenção no governo Temer por desconfiança em relação à postura dele. Reservadamente, o presidente da Câmara tem dito que o PSDB atua como o “dono da bola”: se não joga, ninguém joga. E mais: que a desconfiança do PSDB fortalece o campo de Lula.
SÃO EX-PARCEIROS – A consequência direta disso, hoje, é afastar o DEM do PSDB, tradicionais parceiros eleitorais, no pleito do ano que vem, diz Maia aos companheiros de partido. Aos aliados, lembrou o caso da eleição de 2002. Na ocasião, o clã Sarney atribuiu ao candidato tucano José Serra a movimentação que implodiu a ascendente candidatura de Roseana Sarney. A situação criou um racha e jogou parte do PMDB, liderada pelo ex-presidente José Sarney, no colo de Lula.
Questionado pelo campo de Temer e dos tucanos sobre apoios em 2018, Maia diz que existem muitas variáveis até lá. Hoje, Rodrigo Maia se equilibra cumprindo o papel de aliado sem intimidades: não se mexe contra Temer, mas, ao mesmo tempo, foge de se vincular ao governo.
Por isso, irritou-se na semana passada com a tentativa do Planalto de colar nele a indicação do novo ministro da Cultura.
SEM ASSESSOR – Há cerca de um mês, Maia tem sido cobrado pelo sogro, ministro Moreira Franco, a indicar um assessor para cuidar das questões fluminenses. A vaga segue aberta. O assessor nunca foi escolhido.
E sobre a eleição presidencial? Rodrigo Maia, assim como Doria e Alckmin, recorre ao tempo para desconversar quando perguntado sobre pretensões eleitorais. E costuma repetir que até a disputa da sucessão de 2018 “tem 100 anos”.
25 de julho de 2017
Andréia Sadi
G1 Brasília
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