O empreiteiro Marcelo Odebrecht abriu os arquivos para a Justiça Eleitoral. Na Quarta-Feira de Cinzas, ele descreveu um carnaval de doações irregulares a políticos. Entre outros pecados, confirmou que sua empresa abasteceu o caixa dois da chapa Dilma-Temer em 2014.
Em quatro horas de depoimento, o empresário fez acusações para todos os gostos. Complicou o presidente Michel Temer ao confirmar que foi chamado ao Palácio do Jaburu para acertar contribuições ao PMDB. Também deixou mal a ex-presidente Dilma Rousseff ao dizer que ela sabia da origem dos repasses ao PT.
O delator agravou a situação de Eliseu Padilha, o cambaleante chefe da Casa Civil, ao contar que ele negociava valores em nome do chefe. De volta ao antigo regime, jogou lama sobre os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega, apontados como arrecadadores do petismo.
Sobrou ainda para Aécio Neves, o perdedor da eleição presidencial. Odebrecht disse que o tucano pediu um patrocínio de R$ 15 milhões. Todos os citados terão direito a se defender, mas o empreiteiro prometeu apresentar provas do que disse.
ERA UM OTÁRIO? – Entre tantas acusações, um desabafo chamou a atenção dos procuradores. O herdeiro da maior construtora do país se descreveu como um “otário” a serviço do governo. “Eu era o bobo da corte”, afirmou.
É compreensível que Odebrecht se sinta passado para trás. Ele está preso há quase dois anos em Curitiba, enquanto a maioria dos políticos que subornou continua livre em Brasília. Isso acontece por causa do foro privilegiado, que protege os investigados com mandato.
Mesmo assim, é difícil acreditar que o príncipe dos empreiteiros tenha sido apenas um “otário”. A Lava Jato já demonstrou que a promiscuidade com a corte ajudou as grandes construtoras a superfaturar obras e desviar dinheiro público. Enquanto políticos e empresários aproveitaram o circo, o papel de bobo ficou reservado para o eleitor.
04 de mrço de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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