Chega a ser comovente o esforço dos assessores de Eliseu Padilha para tentar mantê-lo no cargo de ministro. É uma verdadeira operação de guerra, com o quartel-general montado no quarto andar do Planalto pelo secretário-executivo da Casa Civil, Daniel Sigelmann, junto com o advogado Gustavo do Vale Rocha, da Subchefia de Assuntos Jurídicos, com apoio logístico do jornalista Márcio de Freitas Gomes, da Secretaria de Comunicação Social, que tem ajudado a divulgar as informações falsas sobre o estado de saúde de Padilha, muito mais grave do que esses assessores têm informado à imprensa.
DISPUTA DE PODER – A estratégia mambembe da assessoria é apenas mais um capítulo da disputa que se trava nos bastidores do Planalto entre a facção de Padilha (leia-se: os caciques do PMDB) e a facção do presidente Michel Temer, que tem apoio dos neoministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e do assessor especial Rodrigo Rocha Loures.
Desde a demissão dos ministros Romero Juca, Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima, a ala de Padilha está muito enfraquecida e o presidente tentou o golpe fatal na semana passada, com a entrevista de José Yunes à Veja e o depoimento dele à Procuradoria-Geral da República, denunciando o chefe da Casa Civil por envolvimento na doação ilegal da Odebrecht.
NEM PRECISAVA – Hoje, Temer se arrepende dessa manobra com Yunes, não somente porque ficou flagrante demais o complô contra Padilha, mas porque nem precisava. O chefe da Casa Civil já estava com uma doença grave e iria se afastar naturalmente, mas no Planalto ninguém tinha conhecimento do que realmente acontecia.
De início, na defensiva, os assessores da Casa Civil disseram que o ministro tivera apenas uma obstrução urinária devido a uma “hiperplasia prostática benigna”, um caso simples, nem necessitou ser operado no Hospital do Exército, fez somente a desobstrução a laser em ambulatório, teve alta na quarta-feira antes do Carnaval.
Mas o caso era grave e os assessores entraram em desespero e tentam evitar que Padilha se afaste definitivamente, o que significará a demissão de todos eles, inclusive o secretário da Secom. Por isso, desde a primeira internação do ministro, eles estão espalhando notícias falsas, anunciando que Padilha está melhor e logo vai reassumir, embora essa possibilidade seja totalmente irreal.
“MULA INVOLUNTÁRIO” – Enquanto Padilha era internado às vésperas do Carnaval, as revistas semanais antecipavam suas edições e a Veja saiu com a explosiva entrevista do advogado José Yunes, ex-assessor e amigo íntimo do presidente Michel Temer, denunciando ter sido usado por Padilha como “mula involuntário” para receber doação da Odebrecht em dinheiro vivo.
Na quinta-feira, dia 23, após ter sido divulgado o teor da matéria da Veja, Padilha ligou para Temer e pediu licença para tratamento em Porto Alegre, através de atestado médico, para não haver necessidade de publicação no Diário Oficial. E ao contrário do que parecia, a licença nada tinha a ver com a denúncia, o ministro estava mesmo doente.
Na sexta-feira, dia 24, os assessores do Planalto enfim mudaram a versão e anunciaram que Padilha iria se submeter a uma cirurgia, que foi realizada segunda-feira de Carnaval, dia 27, com extração radical da próstata, uma operação de risco, somente admitida em caso de tumor cancerígeno em estágio avançado.
NOTÍCIAS FALSAS – Desde então, os assessores do ministro vêm espalhando mais notícias falsas, insistindo que ele reassumiria na segunda-feira, dia 6, uma hipótese completamente afastada, mas os jornalistas até acreditaram. O fato concreto é que a equipe de Padilha está em pânico, todos sabem que a situação dele se tornou muito delicada. O tumor era cancerígeno e avançou com rapidez.
Estrategicamente, os boletins médicos do Hospital Moinhos de Vento são lacônicos, sequer informaram que foi uma cirurgia de extração total da próstata, ainda nem há informações se o ministro terá de fazer quimioterapia.
Os assessores estão apavorados, porque sabem que serão exonerados pelo futuro chefe da Casa Civil, que vai passar a régua. Enquanto isso, em Porto Alegre, ainda sem previsão de alta, Padilha não tem a menor ideia das loucuras que seus assessores estão fazendo. Sua única preocupação é escapar das sequelas da traumática cirurgia. Sabe que a recuperação é muito lenta, terá de fazer fisioterapia e se empenhar muito, nem pensa em reassumir a curto prazo, ao contrário das notícias furadas que seus assessores ainda tentam espalhar, mas estão caindo no vazio, porque os jornalistas já entenderam o real alcance da situação e agora se preocupam em saber quem será o substituto de Padilha.
04 de março de 2017
Carlos Newton
Nenhum comentário:
Postar um comentário