Começa mais uma semana muito complicada para o Planalto e o Congresso. As expectativas são pessimistas, porque a Procuradoria-Geral da República anunciou discretamente (em off, como dizem os jornalistas) que enfim serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal os primeiros inquéritos com base na delação premiada dos 78 dirigentes e executivos da Odebrecht que se envolveram em atos de corrupção.
RECORDE MUNDIAL – Nunca antes, na História deste país e nos anais da criminalidade mundial, houve uma investigação com tamanha quantidade de delatores de um mesmo grupo empresarial. É algo verdadeiramente inédito e vergonhoso.
Ninguém sabe quantos nomes estarão incluídos na nova lista de Janot. Como diz a Bíblia, muitos foram chamados, mas poucos os escolhidos — apenas por enquanto, claro. As informações anteriores eram de que já estavam concluídos cerca de 30 pedidos de inquéritos, agora este número já deve incluir 50 nomes, pelo menos. E os demais envolvidos não perdem por esperar, porque todos serão contemplados na segunda ou na terceira leva do listão da Odebrecht.
QUEBRA DO SIGILO – As informações vazadas pela Procuradoria indicam que os primeiros nomes serão revelados nesta segunda ou na terça-feira. Para o ansioso público interno do Planalto e do Congresso, além de governadores e prefeitos de grandes cidades, uma grave ameaça adicional é que a divulgação da lista virá acompanhada da quebra do sigilo das delações.
É aí que mora o perigo, porque a imagem dos envolvidos ficará indelevelmente atingida, não há alvejante capaz de remover as manchas. O único consolo da bancada da corrupção é que o foro privilegiado representa garantia de impunidade a curto e médio prazos. Com o Supremo funcionando (?) naquela levada do Martinho da Vila, devagar, devagarinho, é isso que interessa, porque a longo prazo todos estaremos mortos, como dizia o genial economista britânico John Maynard Keynes, que faz uma falta tremenda nos dias de hoje.
REAÇÃO EM CADEIA – Esse clima de suspense e apreensão está acelerando a reação no Congresso e no Planalto, que são irmãos xifópagos em matéria de corrupção, unidos feito casamento, até que a morte os separe. E sabem exatamente o que tem de ser feito, os projetos para abafar a Lava Jato estão em tramitação, e alguns deles foram habilmente ressuscitados do cemitério de propostas engavetadas na Câmara e no Senado, revelando a criatividade de expoentes da bancada da corrupção, como o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), seu sucessor Eunício Oliveira (PMDB-CE) e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que ainda é uma espécie de aprendiz de feiticeiro, mas tem demonstrado grande talento de ilusionista político.
A crise é tamanha que muitos parlamentares estão permanecendo em Brasília, as reuniões contra a Lava Jato se realizam até mesmo nos fins de semana. Se houvesse sessões deliberativas na segunda e na sexta-feira, certamente teriam quorum — acredite se quiser, como diria o genial cartunista americano Robert Ripley, através da figura sinistra do ator Jack Palance.
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PS – Um dos maiores problemas dos políticos da bancada da corrupção, amplamente majoritária na Câmara e no Senado, é que as redes sociais não estão dando sossego. A pressão da internet é forte, mas apenas 9 dos 81 senadores já assinaram o pedido de urgência para votar o projeto do senador Álvaro Dias (PV-PR), que acaba com o foro privilegiado. Estão faltando 32 assinaturas. Ou seja, a emenda jamais entrará em pauta, está tudo dominado. (C.N.)
13 de março de 2017
Carlos Newton
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