"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O QUE NINGUÉM PERCEBEU NESSA BRIGA DE FOICE ENTRE JOICE E REINALDO?



A extrema-esquerda está morrendo de rir com mais um surto de massa da direita brasileira. Altamiro Borges escreve:

Está divertidíssimo acompanhar a polêmica – ou melhor, o barraco – entre Reinaldo Azevedo e Joice Hasselmann, duas figuras projetadas pela asquerosa revista ‘Veja’ e que fazem a cabeça de tantos “midiotas”. Na semana passada, a “jornalista” criticou o velho amigo de redação, afirmando que ele estaria sabotando os atos convocados pelo sinistro Movimento Brasil Livre (MBL) em defesa da midiática Operação Lava-Jato. De imediato, o “rottweiller amoroso” postou um vídeo detonando a ex-amiga de forma brutal. Reinaldo Azevedo chamou Joice Hasselmann de “loira do banheiro”, “xucra”, “plagiadora” e disse que “sempre tive vergonha de ficar do seu lado”. Em resposta, ela postou no Twitter que revelará, em breve, os podres do seu novo inimigo.

Neste sábado (18), Reinaldo Azevedo não se intimidou diante da ameaça e esbanjou valentia. Em postagem no site da ‘Veja”, intitulada “Joice me ameaça com revelação bombástica. Localiza-te logo, moça”, ele contra-atacou: “Sim, tenho muitas outras coisas a fazer e outros temas de que tratar. Joice Hasselmann e um seu admirador, que começou a me mandar ameaças de morte, são menos importantes. Ela é quem é. Ele é caso de polícia. Em sua conta no Twitter, com remissão para Cláudio Tognolli e Olavo de Carvalho, ela diz ter descoberto ‘algo’ a meu respeito. Meu Deus! O que será? Virá um vídeo, anuncia. É o tom de sempre: o da ameaça”.

“Mal posso esperar para saber o que é. Mas a melhor coisa que me enviaram das bobagens que ela publicou é esta: ‘Ele (eu) fala mal de Moro, Deltan, Bolsonaro, Olavo e Trump. E, agora, falou mal de Joice Hasselmann’. Olhem o grupo. O que Sergio Moro e Deltan Dallagnol – eu os critico quando merecem; quem ‘fala mal’ é profissional de bordel — fazem nesse grupo, coitados? Não sabia que comungavam valores de extrema direita, como Bolsonaro e Olavo… Nem eles! Quanto a Trump… Notem que, segundo entendi, a coisa vai num crescendo de importância. E, pois, Joice aparece acima de Olavo (nível semelhante se contato com a realidade), mas também do presidente dos EUA… Joice, Joice. Veja se você se localiza, moça! Como se diz em Minas, uma terra que você conhece, ‘Xeg pracá (aproxime-se)’: cuidado com o excesso de imaginação!”.

Agora é aguardar, ansioso, o revide de Joice Hasselmann, famosa por suas difamações grosseiras e por plagiar matérias – tanto que foi alvo de uma comissão de ética do Sindicato dos Jornalistas do Paraná. Em seu Twitter, ela prometeu: “Pessoal, vocês não sabem o que eu descobri sobre @reinaldoazevedo. Triste… pra ele. Aguardem meu vídeo”. A briga deve esquentar ainda mais nesta semana, com a entrada no ringue de outro filhote da revista Veja, o “moleque maluquinho” Rodrigo Constantino.

Para início de conversa, vou deixar bem claro meu ponto de vista, para evitar murismo e equivalência moral, dois padrões comportamentais que rejeito mais do que a peste. Sair dizendo que “tanto Joice como Azevedo” estão igualmente errados na atual confusão envolvendo a direita imatura brasileira seria equivalência moral, por exemplo.
A baixaria começa

É evidente que estamos testemunhando uma direita imatura politicamente, incapaz de responder ao povo em linha com aquilo que defino como um projeto político coerente. Projeto político qualquer um pode fazer, mas que seja coerente com uma linha-base de direita já são outros quinhentos contos.

De primeira, podemos avaliar que Joice Hasselmann fez uma crítica sensacionalista e provocadora à Reinaldo Azevedo. Entre os problemas graves do primeiro ataque de Joice estão o fato de ela dizer que o jornalista da Jovem Pan “atacava os movimentos” (quando ele nunca fez isso), cobrar seu apoio às manifestações de 26/3 (quando ele deu argumentos para ser contrário a elas, logo, a demanda de Joice não fazia sentido) e colocar suspeitas sobre Reinaldo ao explicar sua oposição ao 26/3. Aliás, discordo de alguns pontos de Reinaldo, mas concordo com outros. Eu também acho que a manifestação de 26/3 é desfocada, e já argumentei a respeito. Mas foquemos na interação entre os dois.



Reinaldo poderia ter respondido de maneira inteligente, mas perdeu a linha e lançou ataques pessoais duríssimos e desproporcionais à Joice, que rebateu. Até aí é um problema deles. Mas parte considerável da direita, que deveria jogar panos quentes, resolveu tocar lenha na fogueira. Virou Fla-Flu, sem a menor nesga de racionalidade. Veja a resposta de Reinaldo:



Agora temos o “time da Joice Hasselmann” e o “time do Reinaldo Azevedo”, em uma briga de egos e baixezas raramente vista. Pior mesmo é ver algumas pessoas que há muito contribuem com muito conteúdo inteligente dizendo coisas de que vão se arrepender no futuro. Parece até aquelas táticas de virtue signaling (encenação de virtude) que a esquerda politicamente correta já está acostumada a fazer. Lembre-se de quando as feministas convocaram atos contra o Bar Quitandinha ou o boicote à empresa Alezzia? É mais ou menos isso que se vê. Ataque em bando e virtue signaling aos borbotões.
Tiro n’água

O principal alvo dos ataques é Reinaldo Azevedo, que provavelmente vai se sair bem, pois o melhor para ele é se distanciar de uma parte da direita menos pragmática. De novo, não é o caso de vários movimentos de rua, como MBL e Vem Pra Rua, que demonstram pragmatismo. Falo das tropas de “ataque em bando”, agora mais presentes no “team Joice” do que no “team Azevedo”. Não parece, aliás, que os ataques a Reinaldo Azevedo são derivados de uma boa tática, pois, no fundo, podem atender aos seus interesses. É só observar o caso de Ricardo Boechat, que é “atacado por ambos os lados”, embora todos nós sabemos que ele possui um lado (o da extrema-esquerda).

Para pessoas como Boechat, receber bordoadas tanto da esquerda como da direita serve como “selo de qualidade”. Azevedo muito provavelmente vai utilizar isso a seu favor, pois colocará os ataques da direita mais purista – que chama qualquer discordante de “integrante do projeto fabiano” – como um troféu. George Lakoff já explicou que 60% das pessoas são biconceituais, ou seja, não se posicionam como de direita ou de esquerda. Esse é o público ambicionado tanto por Ricardo Boechat, de esquerda, como, ao que parece, Reinaldo Azevedo, de direita.
O advento do “isentão” de direita

O “isentão” é um modo de agir extremamente inteligente. Alguém que tem um partido procura agir como se fosse independente. Daí essa pessoa mistura críticas estrategicamente para “ambos os lados”, mesmo que, no fim, tenha um lado bem escolhido. Para quem estudou publicidade, isso se chama “distanciar a propaganda da fonte”. Já usei o termo “simulação de falso apartidarismo” para definir o padrão. Tanto faz. O que importa é que isso funciona.

Há quem diga que “Reinaldo Azevedo será demolido”. Nem de longe. Sejamos francos: nomes como Reinaldo Azevedo, Rachel Sheherazade e Marco Villa, só para citar três exemplos, são muito mais lembrados pelo público do rádio do que muitos de seus atacantes. Aliás, Marco Villa também já foi “destruído” pela mesma direita que hoje está atacando Reinaldo Azevedo. Relembre este texto do DCM quando Marco Villa chamou Olavo de Carvalho de fascista. Na época, o pau “torou” para cima de Marco Villa. Ele foi destruído? Claro que não.

Algumas pessoas dessa direita mais feroz se iludem achando que baixo número de visualizações em vídeos da Internet de Reinaldo (e a divulgação de seus vídeos é desastrosa mesmo, e suas redes sociais não são bem administradas) serve como demonstração que ele está “caindo” e Joice “vai substitui-lo”. Isso é tolice, pois um tem pouco a ver com o outro. Muitas vezes, falamos de públicos diferentes. Reinaldo hoje é o isentão total, e esta é uma estratégia inteligente.

A direita depende daqueles mais “ferozes” misturados a alguns isentões se quiser ter o mesmo “punch” da esquerda. Achar que um vai substituir o outro é ignorar como reage o público consumidor de conteúdo. É fato: o discurso de Joice Hasselmann tem um público restrito, o qual é considerável. Mas nem em sonho a Jovem Pan trocaria um isentão como Reinaldo Azevedo por um comentarista de nicho.
De novo a direita em clima de barata voa…

Uma pena é a completa irracionalidade da direita ao não conseguir compreender a utilidade dos isentões, time ao qual Reinaldo Azevedo hoje pertence, fazendo um bom trabalho, assim como Joice Hasselman o faz, só que para um público específico. Claro que é possível discordar de vários pontos de Reinaldo. Alguém pode dizer que a crítica de Reinaldo ao 26/3 é prejudicial a direita. Ele, por outro lado, argumenta que os movimentos de 26/3 é que são prejudiciais.

Mas a extrema-esquerda igualmente possui frentes. Os esquerdistas mais “ferozes”, como Rui Costa Pimenta, acham que a extrema-esquerda deveria rejeitar toda a Lava Jato. Já o PSOL diz que apoia Sergio Moro até o fim, para obter capital político. A divergência é similar. Mas eles não entram em guerra de destruição interna como faz a direita. Ao contrário, usam essas divergências, aparam suas arestas e consolidam os melhores resultados em uma determinada direção.

Qual o segredo?

É simples. A esquerda tem muito mais maturidade em termos políticos. Esse é nosso maior desafio. Ampliar a maturidade da direita.

Em tempo: qual o meu lado? O meu lado é o do projeto político de nos libertarmos da extrema-esquerda (especialmente dos riscos de eles retornarem em 2018). Acho que Reinaldo Azevedo e Joice Hasselmann deviam resolver seus problemas ou então se esfolarem de vez, mas sem essa torcida com muita gente na arquibancada. Que ambos tragam seus resultados para a direita. E que os resultados de cada um sejam comparados. Simples assim…


20 de fevereiro de 2017
ceticismo político

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