"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

QUE TRISTEZA, RENAN

Vai longe o tempo que nos conhecemos.

No DCE da Ufal, nos anos 70, o jovem cheio de garra e esperança. Cabelos cacheados, voz firme e toda vontade de mudar o mundo. Desse tempo éramos Enio Lins, Aldo Rebelo, Ticianeli, Thais Normande, Eliane Le Brun, Mario Agra... dentre tantos corajosos da época. Estive em sua primeira campanha a deputado estadual, e lembro das pichações nos muros de uma Maceió tão diferente..

A vibração da vitória. Nossas alegrias.

Seus discursos contra os abusos da ditadura...

Pizzaria Sorriso era nosso "escritório".

A Praça Sinimbu nossa arena.

Depois os tempos da Garça, em sua primeira casa de varandas e coqueiros e a linda Verônica grávida de Renanzinho. Nesse tempo, nem a Midô, boate da época, você ia, preocupado com a "incompatibilidade dos atos..". E a vida seguiu.

Eleito deputado Federal, foi nosso orgulho. Coerente e guerreiro, fez de sua casa a casa dos alagoanos em Brasília. Sua inteligência e integridade o fizeram. Estivemos juntos na Anistia. Nas Diretas. Na tristeza da morte de Tancredo. Na derrota à prefeitura de Maceió. E na alegria da vítoria do Collor. Vi você sair da liderança do governo por não concordar com os esquemas do Presidente. Estivemos juntos mais que nunca. Você e Cláudio sofreram o ostracismo da rebeldia. Foram dias difíceis e tristes. Logo depois, a traição/vingança Collor na campanha a Governador e a inconcebível derrota. A falta de grana, o desemprego. As dívidas. A angústia...

Nas areias da Garça, olhando o mar, você nos falou do convite de Sarney para a Petroquisa. E lá se foi você...

Depois o Senado. E o Ministério da Justiça... e o Senado... e a Presidência do Senado... e ficamos vizinhos tantos anos. Mas já não era o nosso Renan. Sarney não fez bem a você .

Ou terá sido a dura realidade ?

O que aconteceu com o nosso guerreiro... Escândalos, o apoio ao PT, as promessas não cumpridas e o povo, que percebeu que sua inteligência estava sendo usada de modo errado. Alianças espúrias. E nas esquinas começaram a dizer que o "rei estava nu" .

Sua brilhante trajetória entraria para história. Mas, sinceramente, meu antigo amigo, agora só me resta lamentar, profundamente, que a sua tão bela saga tenha tomado tão estranho rumo.

Tenha feito de você essa insólita fera.

Que tristeza, Renan. Que tristeza...



07 de dezembro de 2016
Mirna Porto


NOTA AO PÉ DO TEXTO

Lamento o desencanto dos crédulos, que acreditam que o escravo jamais será feitor de seu povo.
Um caráter mede-se pelo poder que se lhe dá. Não há o que lamentar. É ledo engano imaginar que os sonhos e as utopias vencem a ganância, a ambição e o poder. Somos apenas humanos, e como dizia Píndaro, "para mortais, sonhos de mortal".
Renan de há muito revelou sua face nefasta, aliás, diga-se de passagem, atolou-se na lama política, na areia movediça, na corrupção dos valores, da ética, da inspiração patriótica. 
Com raríssimas exceções, o jogo político que se pratica no Brasil não merece respeito. 
Estamos mergulhados numa crise jamais vivida pelo país. Uma crise não apenas moral, mas institucional.  Gosto da lei de Murphy que enuncia: 'de onde menos se espera, é que não vem nada mesmo'.
E nunca se esqueça: se está ruim, lembre-se: ainda pode piorar mais.
Renan mostrou-se apenas renan, nada mais. Não temos a condição de superar os nossos limites.
m.americo

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