"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 26 de novembro de 2016

UM POVO INFELIZ



Há uma piada segundo a qual, quando da Criação, o Brasil teria sido privilegiado em sua natureza para compensar o “Zé-Povinho” que seria colocado aqui. Pois é. Mas que tal darmos uma olhada na vida de João Valjão, um típico brasileiro?

João mora em uma de nossas 3.100 favelas. Lá não saneamento básico. Por conta disso ele sofre de disenteria e hepatite. No Brasil morrem cerca de 20 crianças por dia vítimas da falta de esgoto - foi assim que João viu morrer, no corredor lotado e sujo de um hospital, seu único filho. Bem, como políticas de saneamento nunca foram feitas pelo “Zé-Povinho”, João não tem culpa por este horror.

Entre uma disenteria e outra, João sente fraqueza e dificuldade para aprender até coisas simples. É a falta de ferro! Segundo a ONU, um brasileiro médio não supre sequer um terço das necessidades diárias de vitaminas e sais minerais. Daí a falta de saúde e aparente falta de inteligência. É por isso que temos a maior relação de farmácias por habitante do mundo. Também aqui, como a saúde pública nunca foi gerenciada pelo “Zé-Povinho”, João não tem culpa.

João é viúvo: o ônibus no qual estava sua esposa foi desviar de um buraco e bateu em uma carreta. João nunca reparou que o Brasil tem a mesma quantidade de ferrovias que o pequenino Japão - e que 40% delas estão quase inutilizáveis. Assim, 70% das cargas vão de caminhão – um absurdo sem paralelo. Como o “Zé-Povinho” nunca palpitou sobre transportes, tarefa reservada aos doutos, João não tem culpa alguma.

Com freqüência a Polícia sobe o morro no qual João sobrevive, troca tiros com alguns, prende outros, mas logo todos retornam e tudo volta ao normal - e ele vai levando a vida, sem desconfiar que no Brasil apenas 2% dos crimes são punidos. Ainda aqui, como o “Zé-Povinho” sequer de leis entende, João é inocente.

João leu que o Brasil perde anualmente R$ 100 bilhões com a corrupção. Bom, como o “Zé-Povinho” dificilmente ocupa cargos públicos, quero crer que ele não tenha culpa alguma por mais esta mazela.

Fica claro, pois, que quem está falhando na construção do Brasil não é o povo. Se este mais não faz, é porque serviços públicos administrados por uma elite instruída não proporcionam às nossas crianças saúde, educação e condições dignas de vida - nossa culpa, nossa tão grande culpa!



26 de novembro de 2016
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.

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