"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

RENAN ESPERNEIA À MEDIDA QUE O CERCO SE FECHA EM TORNO DELE

Renan Calheiros, presidente do Senado (Foto: Divulgação)

Nada de desabafo espontâneo. Nem de afirmações provocadas no calor da hora por perguntas embaraçosas que o surpreenderam.

Por sinal, foram poucas as perguntas no ato que Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, batizou de entrevista coletiva.

Convocados os jornalistas ao seu gabinete, Renan ditou declarações com base em um documento que consultou todo o tempo.


Então chamou o ministro Alexandre Moraes, da Justiça, de “chefete de polícia” e de “ministro circunstancial”.

Chamou de “juizeco” o juiz de primeira instância que autorizou a prisão de agentes da Polícia do Senado na última sexta-feira.


Disse que a Polícia Federal valeu-se de “métodos fascistas” para invadir o Senado e cumprir a decisão do “juizeco”.


Lamentou que tal coisa tivesse acontecido, “um espetáculo inusitado que nem a ditadura [militar de 64] ousou fazer”.

Anunciou que entrará, hoje, no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação para defender as prerrogativas da Polícia Legislativa.

E, por fim, do alto da indignação estudada, sapecou: “Tenho ódio e nojo a métodos fascistas”.

Plagiou a célebre frase de Ulysses Guimarães dita na sessão de promulgação da Constituição de 1988:

- Eu tenho ódio e nojo à ditadura.

O desempenho de Renan não traiu a revolta do presidente de uma instituição que se sentiu ultrajada. Não.

Até ontem, pelo menos, apenas dois senadores reclamaram da prisão dos agentes da Polícia do Senado. Os demais silenciaram.

O desempenho de Renan traiu o seu próprio medo de, em breve, tornar-se a bola da vez do Judiciário.

A situação dele, ali, só piora. Renan responde a oito processos no STF. O mais antigo foi finalmente liberado para ser julgado.

Seis processos têm a ver com a roubalheira na Petrobras que o beneficiou, segundo denúncia da Procuradoria Geral da República.

A prisão de agentes da Polícia do Senado poderá envolvê-lo em mais um rolo: o de tentar proteger colegas encrencados com a Lava Jato.

Foi Renan que autorizou a Polícia do Senado a fazer varreduras em gabinetes e casas de senadores visitadas pela Polícia Federal.

A Polícia do Senado foi até lá à procura de equipamentos de escuta eventualmente plantados pelos agentes federais. Não encontrou.

Renan ameaça pôr em votação no Senado um conjunto de medidas que limitem a ação da Polícia Federal e do Ministério Público.

Por suposto, advoga em causa própria.


26 de outubro de 2016
Ricardo Noblat

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