É um truísmo dizer que na guerra política precisamos estar atentos à guerra de narrativas. No fundo, deveria ser uma de nossas prioridades. Porém, é preciso tomar cuidado para não focarmos unicamente nas narrativas, ignorando completamente os fatos. A razão para isso é que se nossos adversários percebem o amontoado de contradições, a coisa pode complicar. Para o PT isso não havia sido um problema, pois seus adversários não jogavam o jogo político. Mas agora alguns estão jogando. E o colapso de narrativas petistas está ficando constrangedor para eles.
Por exemplo, o presidente do PT, Rui Falcão, está fulo da vida com a prisão de Eduardo Cunha. Ele disse: “Excesso de prisões só consolida a ideia de que estamos ingressando num estado de exceção. As pessoas devem ter direito à presunção de inocência e ao devido processo legal. E o excesso de prisões, sobretudo as prisões cautelares, com objetivo de obter delações, não preocupam o PT. Devem preocupar todo povo brasileiro. Hoje é o Eduardo Cunha, amanhã pode ser qualquer um de nós”.
Mas não foram os petistas que pediram a prisão de Cunha por tanto tempo? O fato é que a prisão de Cunha esmaga a narrativa de que “Lula é um perseguido”. No fundo, é protegido até demais. Mas para tentar sustentar a narrativa – mais falsa que propaganda de pasta de dente -, agora passarão a tratar Cunha como “vítima de um excesso”.
O detalhe é que alguns petistas ainda estão propagando outra narrativa: a de que Cunha foi “preso tarde demais”. Segundo essa narrativa, o melhor seria que Eduardo Cunha fosse preso antes de conseguir dar sequência no processo de impeachment. Mas será que a prisão de Cunha não seria excessiva naquela época, somente se tornando um excesso agora? Eis outro colapso de narrativas.
A coisa já adentrou ao ritmo da comédia bufa.
21 de outubro de 2016
ceticismo político
Nenhum comentário:
Postar um comentário