"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

EM PLENA BAIXARIA, É BOM LEMBRAR UM BRASILEIRO CHAMADO PEDRO II



Respeitado na Europa, desprezado no Brasil
No meio desta crise política e institucional que vivemos hoje, é conveniente olhar um pouco para o passado e rever a grandeza de um governante brasileiro que conquistou reconhecimento internacional. Chama-se Pedro II e morreu exilado em Paris, longe de sua pátria amada. Leiam este relato, extraído do Diário do Barão e Baronesa de Loreto, existente no Museu Imperial de Petrópolis.
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O EXÍLIO NA EUROPA
Após dois dias da expulsão da família Imperial, todos seus bens foram saqueados pelos militares e outros leiloados por preços irrisórios. Dona Teresa Cristina morreu em poucos meses (o enterro foi pago por amigos, devido a difícil situação financeira do Imperador), Pedro Augusto teve que ser trancado em uma cabine, pois não parava de gritar e tremer. O único que o acalmava era seu avô Pedro II, que entrava na cabine, sentava ao chão e o abraçava em prantos, dizendo que tudo ficaria bem.
Quando a família Imperial chegou a Lisboa, uma multidão esperava no porto junto aos seus familiares, foi oferecido um palácio e uma voluptuosa fortuna e renda mensal para Pedro. Porém, eles não aceitaram qualquer tipo de ajuda financeira dos parentes portugueses, mesmo Pedro tendo o título de Arquiduque em Portugal, Filho do Rei Pedro, Irmão da Rainha Maria da Glória e Tio do reinante da época.
Dona Isabel, Conde D’Eu e seus três filhos foram para o palácio D’Eu, de seu pai, o Duque D’Eu, na França. Aonde tiveram uma vida confortável diante a fortuna que a família D’Eu possuía.
Pedro II e Pedro Augusto partiram para o centro de Paris, aonde se hospedaram em um simples hotel de três estrelas, pago por um grande amigo de Pedro, que viajou logo em seguida para Europa quando soube do acontecido. Pedro Augusto preferiu ficar em um casa de uma amiga íntima de Freud, que tinha grande estima pelo rapaz, um lugar maior e mais sossegado para acalmar o sofrido jovem. A casa ficava dois quarteirões do hotel aonde Pedro se hospedara, então as visitas de seu avô eram diárias, onde levava seu neto aos museus e bibliotecas da cidade luz.
Tudo parecia que estava em formação, uma nova realidade para todos, e a vida continuava. Pedro II adorava dar aulas na principal biblioteca de Paris para universitários, de história, geografia, botânica, grego e inglês. Sua rotina se resumia em acordar bem cedo, preparar suas aulas, ir para biblioteca, visitar exposições, visitar amigos, tomar café pela tarde e ler até 5 livros em uma única madrugada. Pedro adorava traduzir de forma perfeita as maiores obras literárias para o português, e foi o primeiro a traduzir a obra “Mil e uma Noites” do árabe original para o português do Brasil. A relíquia encontra-se na biblioteca nacional de Coimbra em Portugal.
Em 1890, uma pneumonia instalou-se em seus pulmões, o limitando a ficar na cama de solteiro de seu quarto, escrevendo seus amados contos e poesias e lendo seus livros preferidos. Alguns meses após a doença e tratamento sem bons resultados, morrera naquela cama sozinho, com um saco de areia da praia de Copacabana em seu bolso.
O velório foi digno de um imperador da França, devido a tal prestigio que Pedro gozava entre os intelectuais e nobres da Europa. Um cortejo de mais de 500 mil pessoas tomara as ruas de Paris, e todas as honras monárquicas foram feitas pelo governo Francês. Um fato histórico, pois nunca Paris tinha se mobilizado tanto, nem mesmo por falecimento de governantes locais. Reis, rainhas, nobres, burgueses de todo o mundo estavam presentes no velório e no cortejo, como a Rainha Vitória, da Inglaterra, o presidente dos Estados Unidos e centenas de amigos intelectuais, como o próprio Freud e o filósofo Friedrich Nietzsche.
O governo militar ditatorial brasileiro revoltou-se pelo tamanho da comoção mundial envolta do falecimento de Pedro II. Rompendo acordos diplomáticos com a França, Inglaterra e Alemanha. Nenhum representante do novo governo brasileiro foi mandado para o enterro do expulso Imperador. A mídia fechada pelos militares no Brasil, os jornais não puderam ao menos noticiar o falecimento do monarca. A grande maioria do povo brasileiro só soube do acontecido três meses depois.

24 de dezembro de 2015
Mário Assis Causanilhas

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