Prevista para hoje mas sujeita a adiamento, a reunião do Conselho de Ética da Câmara poderá abrir a primeira estação do calvário de Eduardo Cunha ou, contrariando o Novo Testamento, levar Pôncio Pilatos a absolver Jesus. Entre dúvidas e mudança das tendências e das sentenças, o Conselho encontra-se rachado. Poderá haver empate na decisão dos conselheiros, entre abrir processo contra Eduardo Cunha ou arquivar o parecer do relator, Fausto Pinato, favorável ao julgamento do presidente da Câmara por ofensa ao decoro parlamentar.
No final da semana e hoje montes de contas foram e estão sendo feitas e desfeitas a respeito da decisão preliminar dos integrantes do Conselho. Dez a dez, contando com a ausência de uns poucos? Onze a onze? Vitória dos favoráveis à condenação de Cunha ou arquivamento da acusação dele haver mentido a respeito de suas contas no exterior?
De qualquer forma, não se trata de esperar uma sentença definitiva, já que o mérito só será apreciado depois, muito provavelmente ano que vem, dado o recesso parlamentar a ser iniciado a 17 de dezembro.
Vale tudo nesse entrevero inicial, desde a defesa antecipada do presidente da Câmara, já circulando, até contestações regimentais referentes à primeira reunião do Conselho de Ética, realizada semana passada, hoje contestada pelo deputado fluminense.
A pedra de toque dessa decisão, vale repetir, se não for adiada, repousa na representação do PT. O palácio do Planalto trabalha para que os companheiros com assento no Conselho votem em favor de Cunha, arquivando o processo. Se não puderem, por razões de consciência, que pelo menos faltem, permanecendo em seus estados.
Em suma, a impressão é de desenrolar-se um leilão, daqueles do “quem dá mais”. Eduardo Cunha dispõe de uma carta na manga, o deferimento do pedido de impeachment contra Dilma, que ainda não despachou. Nem contra nem a favor, por enquanto, ele poderá retribuir a gentileza de Madame, se ela mobilizar o PT para salvá-lo do processo. Ou dar andamento à acusação de que ela quebrou a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O país está diante da opção de duas ações correrem paralelas, claro que apenas no ano que vem, ameaçando os mandatos de Dilma e de Cunha. Ou de nenhuma ação tramitar contra ambos. Nos dois casos, do que menos se cuida é do mérito das acusações, ou seja, se houve culpa ou inocência na ação da presidente da República e do presidente da Câmara.
Um jogo de barganhas e de interesses escusos, de parte a parte. Retrato óbvio de que o dia seguinte, no Brasil, sempre poderá ficar um pouquinho pior do que a véspera...
25 de novembro de 2015
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário