Os policiais que batizaram a nova fase da Lava Jato não poderiam ser mais explícitos. A expressão Passe Livre resume a desenvoltura com que o pecuarista José Carlos Bumlai circulava pelo Palácio do Planalto durante o governo Lula.
O amigo do ex-presidente foi preso nesta terça-feira. De acordo com o juiz Sérgio Moro, “há prova de seu envolvimento” em crimes de corrupção na Petrobras.
A decisão também cita empréstimos fraudulentos e repasses milionários ao PT.
Segundo três delatores da Lava Jato, a trama começou em 2004, quando Bumlai captou R$ 12 milhões com o banco Schahin. O dinheiro, diz Moro, “tinha por destinatário final o Partido dos Trabalhadores”. Cinco anos depois, o repasse teria sido quitado com verbas da Petrobras.
A PF investiga ainda empréstimos de R$ 518 milhões do BNDES a empresas de Bumlai. Enquanto o pecuarista era preso em Brasília, policiais recolhiam documentos na sede do banco estatal, no Rio.
A prisão do amigo de Lula não preocupa o governo apenas pelo novo desgaste na imagem do ex-presidente. Os petistas temem que ele se desespere na cadeia e negocie um acordo de delação premiada com os procuradores de Curitiba.
MORO, O ESTRATEGISTA
Moro foi cauteloso ao se referir a Lula. Disse que Bumlai usou seu nome “de maneira indevida” e que “não há nenhuma prova” nos autos contra ele. Para os aliados mais céticos do ex-presidente, o pecuarista teria sido preso justamente para ajudar na produção dessas provas.
O juiz da Lava Jato usou uma justificativa curiosa ao determinar a preventiva do empresário. Disse que Bumlai tinha o “comportamento recorrente” de usar a proximidade com Lula para “obter benefícios”, e poderia manchar o nome do amigo caso continuasse em liberdade.
“Fatos da espécie teriam o potencial de causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-presidente”, escreveu.
Moro é um estrategista.
25 de novembro de 2015
Bernardo Mello Franco
Folha
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