"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

RESSUSCITAÇÃO POLÍTICA



Nunca antes na história da República do Brasil se assistiu a uma prisão de um senador em pleno exercício do mandato parlamentar, a qual veio a ser confirmada pela casa alta numa expressiva votação. O que se extrai de positivo diante de tudo isso é que se a classe política não está morta. Ela, decisiva e definitivamente, destruiu, estraçalhou e detonou os sonhos de milhões de brasileiros, em troco da impunidade em busca da corrupção.

Quando um Senador poderia tocar no nome em conversas com os Ministros da Suprema Corte, dando a entender que teria um fácil transito e forte influência? As circunstâncias são gravíssimas e comprovam que a classe política apenas pensa nos seu bem estar, achando que voto obrigatório representa democracia, bilhões roubados e desviados dos serviços públicos e agora lamentam ajuste fiscal para o retorno da famigerada CPMF.

A ressuscitação dos políticos brasileiros passa por vários fatores. O fim do foro privilegiado, o término da imunidade parlamentar, dinheiro não declarado em campanha política, fiscalização plena das cortes eleitorais, submissão ao mandato por prazo indeterminado, e uma prestação efetiva de contas à população, com o fim das regalias de três dias por semana, e salários indiretos.

Não se sustenta uma republica deformada e desarticulada com mais de 5600 comunas, muitas das quais incapazes de pagar a folha dos servidores ou os serviços essenciais à população. Foram anos e mais anos de absoluta dissociação entre o político e seu eleitor. Somente voltam quando estão à cata do voto e na espreita de favores pessoais. Quanta diferença existe entre um político local e aqueles que lutam pelos ideais da sociedade.

E essa falta de força política domina o cenário local e o estrangeiro. Os atentados cometidos em França indicam que as grandes potencias em algum momento falharam e permitiram que o terrorismo espalhasse suas garras mundo afora. O Estado Brasileiro falido e perdulário encontra nos políticos a desaliança, o estado de torpor e a morbidade permanente,

haja vista que se lançam em obras, serviços e todo tipo de vantagens indevidas, para que aboletem recursos financeiros ao longo do exercício do mandato, seguros que a impunidade prevalecerá e a demora no julgamento pelo STF deflagará a acalentada prescrição.

O esvaziamento do interesse do cidadão se deve em razão da falta de oposição, e quando na Argentina uma terceira corrente veio à baila, as distâncias foram encurtadas e o recado das urnas entendido e bem compreendido. Temos uma forte abstenção somada à nulidade do voto do eleitor, cuja histórica prisão de um Senador incorporada ao banqueiro de elevadas somas, coloca em grande indignação toda a cidadania e contrasta com os dias atuais difíceis e de agruras.

O cidadão brasileiro já está convencido que nada poderá esperar de mudança e transformação dos políticos, os quais desservem a República e não trabalham em prol de melhores dias para revertes os malefícios do desemprego, da estagnação, da alta inflação, do cambio e da desintrustrialização.

Incrível como o Senador balbucia os nomes de ministros e políticos de frente do governo ou de aliados, tudo dando a entender que na República de bananas o mais espertalhão é o que sobrevive e arregimenta as falcatruas pela inércia das instituições.

Algo de muito podre no reino do Brasil está sendo, pela primeira vez, desnudado, exposto e a tumorização sumetida ao pesado bisturi da polícia federal, do ministério público e da justiça.

Que essas lições sirvam de exemplo senão para a ressuscitação da classe política que tanto nos envergonha ao menos para o redesenho formatado de poucos mas representativos partidos políticos, pois que os gastos feitos com nossos parlamentares além de excessivos e supérfluos vão para o ralo da desesperança e amargura de uma Nação em destruição.

26 de novembro de 2015
Carlos Henrique Abrão, Doutor em Direito pela USP com Especialização em Paris, é Desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário