"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

DATAFOLHA: O POVO CONDENA OS LADRÕES, O CINISMO E O ESCÁRNIO


A pesquisa do DataFolha publicada na edição de domingo da Folha de São Paulo, reportagem de Ricardo Mendonça, revelou com intensidade que a população brasileira passou a condenar tanto a corrupção quanto o cinismo e o escárnio, para aproveitar a afirmação feita há poucos dias pela ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. Os números ressaltam esse impulso, pois pela primeira vez a corrupção foi destacada como o maior problema brasileiro: 34% a colocaram no topo da lista, à frente da saúde, do desemprego e da violência. Enquanto 34% revoltam-se contra a roubalheira, 16% reclamam dos serviços de saúde, 10% preocupam-se com o desemprego, 8% com educação e 8% reagem contra a violência e a insegurança nas ruas.
Surpreendente a opção da maioria em colocar a corrupção em primeiro lugar. Por que isso? Provavelmente porque atribuem aos roubos a culpa pelas demais condições negativas que colocam entre as prioridades que afetam a todos. De fato, no fundo da questão, têm razão, uma vez que a corrupção, pelo que se lê nos jornais, atinge profundamente todos os demais seguimentos essenciais à existência humana. Na verdade o roubo ao dinheiro público reflete-se intensamente em todas as escalas de produção, causando efeitos sociais extremamente negativos.
FALTA DE ESPERANÇA            
Um desses reflexos está no pessimismo e na falta de esperança, fatores vitais destacados por Mauro Paulino e Alessandro Janoni em matéria publicada na mesma edição da Folha de São Paulo. À medida em que a corrupção aumenta, diminui o número de empregos, pioram os serviços de saúde pública, agrava-se a ameaça da crescente violência, que traz consigo a insegurança e o temor que toca a todos quando simplesmente saem de suas casas e encontram o perigo a cada esquina.
A corrupção, assim, é uma espécie de monstro devorador dos seres humanos e de sua confiança na melhoria que se anuncia de um ano para outro e que nunca se realiza. É o que vem acontecendo pelo menos ao longo dos últimos seis anos. Agora a sociedade percebeu a existência desse vulto sinistro, que em sua essência destrói qualquer esforço para melhoria da distribuição de renda e, pelo contrário, contribui profundamente para concentrá-la ainda mais nas mãos daqueles que investem no assalto aos recursos do Tesouro Nacional. São negócios nebulosos, compartilhações sinistras, elos que vinculam um grupo de personagens repetidamente entre si desenvolvendo e incentivando transações fora da lei.
SUBORNANDO CERVERÓ…
Quando um senador, como Delcídio do Amaral, propõe suborno a um homem como Nestor Cerveró, tal fato assinala a que ponto atingiu a degradação que envolve o sistema de poder. Parece termos chegado o limite máximo do cinismo e do escárnio, porém é uma ilusão pensar que o escárnio e o cinismo se esgotam na gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobrás na véspera de confirmar sua delação premiada. Nada disso. Vai muito além. É só esperar pelos próximos desdobramentos que o caso reflete, como se na corrupção os ladrões pudessem atravessá-la como se ela fosse um espelho de duas faces. Basta caminhar e ir juntando os fatos daqui para frente para se ter certeza de que o movimento de reação se fortalece com a profundidade das investigações e decisões judiciais.
Foi quebrada a tradição brasileira da impunidade dos ladrões de casaca e de seus comparsas. E foi quebrada pela reação maciça da opinião pública, conforme traduz e destaca a pesquisa do DataFolha com seus números contundentes e inquestionáveis. A sociedade rejeitou o asfixiamento moral e o espetáculo de degradação da atividade político-administrativa a que estava sendo submetida. O combate a corrupção tornou-se, assim um caminho sem volta. Para os corruptos e corruptores, seu destino parece traçado: a cadeia.

30 de novembro de 2015
Pedro do Coutto

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