"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

VALENTINA DE BOTAS: QUERO FALAR DE HÉLIO BICUDO


Emerson diz em “Ensaios” não ser difícil viver segundo a opinião da multidão; também não é difícil viver de acordo com a própria consciência na solidão; o difícil mesmo e que torna alguém um grande homem é manter “no meio da turba, com perfeita serenidade, a independência da solidão”. Quero falar de Hélio Bicudo.
Frustração ou sonho em parceria, como a que temos aqui em contiguidade a um resto de país que presta, valem pela graça dela e como elo do nosso caráter à alma do que julgamos certo, esta a substância remanescente da luta desigual. Assim, perseveramos na parceria, à luz desta coluna, mantendo-nos acordados para o sonho de ter o país de volta. Mas quero falar de Hélio Bicudo.
O lulopetismo se camuflou num Brasil doente para dissimular as próprias enfermidades e já elabora outro mimetismo tentando transformar em coisa corriqueira, como uma paisagem a que os olhos se acostumam até ficar doentes de tanto ver, a vertigem das denúncias da Lava Jato e o cotidiano desmoralizador de um governo que só tem a si como projeto e que, encabeçado por uma acéfala em quem ninguém confia, permanece envolvido na atmosfera nublada da presença do jeca.
Acuado pela lei, o inseto mimetizado se move agonizante e revela como se ocultara conquanto permanecesse óbvio. Para recompor a camuflagem, o governo simula naturalidade com andanças e declarações de Dilma em quem se flagra a mentira nos olhos míopes que só enxergam 2018, quando, chegando sã e salva à sepultura política, poderia afirmar, para a apoteose da safadeza institucionalizada, que a tudo venceu e concluiu o mandato.
Eis o projeto de governo da presidente que, isolada da lucidez por vão intransponível, continua forçando a membrana complacente que ainda separa muitos brasileiros da indignação – os vigaristas contam com o vício da nação em assimilar assaltos e sobressaltos. Por isso, quero falar de Hélio Bicudo. Na assimilação das palavras de Emerson, sonhando em parceria com a nação que presta e tendo o caráter unido à alma ideal do que julga correto, Hélio Bicudo, aos 93 anos de uma vida de combates cujos equívocos jamais transitaram para a desonestidade, protocolou na semana passada o pedido de impeachment de Dilma que atormenta a súcia.
Com isso, expôs-se à baixaria pública pela qual um dos filhos se mostrou indigno do pai corajoso e ao ódio dos que veem no repúdio a bandidos um golpe da tal direita raivosa no estranho caso de golpismo previsto na Constituição ou como se a direita obrigasse lulopetistas a delinquir. Enquanto isso, a oposição anuncia semanalmente que na semana que vem decidirá se reunir ou se reunirá para decidir. Claro que a luta ainda é desigual, mas é alentador que alguém que já viu tanta coisa mantenha os olhos sadios para abrigar um sonho e mostre que consciência é caráter e caráter é prática.

28 de setembro de 3025
Valentina de botas

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