"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

NO CASO DO CORTE DOS MINISTÉRIOS, A LOROTA VENCEU


É possível encher o espaço desta coluna com declarações da presidente Dilma Rousseff e seus aliados contra a ideia de cortar ministérios. A sugestão circulou em diversos momentos, mas sempre foi tratada com desprezo no Planalto.
Uma boa oportunidade surgiu depois dos protestos de junho de 2013, quando a popularidade presidencial sofreu o primeiro tombo. Pressionada pelas ruas, Dilma foi aconselhada a enxugar a máquina em sinal de austeridade. “Há um consenso hoje na questão do número exagerado de ministérios”, disse o então presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, sugerindo o fim de 14 pastas.
A presidente escalou Jaques Wagner, então governador da Bahia, para responder em seu nome. “Não é reduzindo ministério que se dá eficiência à máquina pública”, disse ele. Dois anos depois, o peemedebista e o petista esqueceram a divergência e foram premiados com a mesma moeda. Hoje, eles são dois dos 38 ministros do governo Dilma.
O tema voltou na campanha de 2014, quando Aécio Neves e Marina Silva prometeram passar a navalha na Esplanada. Como nenhum deles se encorajou a nomear as pastas que seriam sacrificadas, a presidente se sentiu à vontade para contra-atacar.
“CEGUEIRA TECNOCRÁTICA”
“Tem gente querendo reduzir ministérios. Um deles o da Igualdade Racial, outro o que luta em defesa das mulheres. Eu acho um verdadeiro escândalo querer acabar”, disse, em setembro. No mês anterior, ela definira a promessa dos adversários como uma “cegueira tecnocrática”.
Reeleita, Dilma teve nova chance de reduzir o time, mas bateu o pé. “Outra lorota”, disse em novembro, ao ser questionada sobre os rumores de que enxugaria o segundo escalão. Ela insistiu que a medida não geraria “economia real” para o governo.
Ao voltar atrás, Dilma deixou duas hipóteses em aberto. Ou mentiu antes, ao dizer que não precisava cortar ministérios, ou mente agora, ao agir contra suas convicções. Em qualquer dos casos, a lorota terá vencido.

28 de agosto de 2015
Bernardo Mello Franco
Folha

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