As ordens de João Roberto Marinho foram seguidas, a Organzação Globo deu uma refrescada na pressão contra o governo e aumentou a carga contra o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Para quem acredita em coincidência, é realmente um prato feito. A edição do jornalão nesta terça-feira, por exemplo, merecia até ser comemorada no Planalto, não fosse o artigo de Marco Antonio Villa, na página 12, avisando que não existe mais governo. Até nas cartas dos leitores só saíram mensagens de apoio a Dilma.
Em outros grandes órgãos de comunicação, também se nota uma aliviada no governo e no PT, embora seja impossível cessar a carga de cavalaria, tal a gravidade da crise múltipla que o país atravessa – na política, na economia e na ética.
Não há perspectiva de salvação para o governo, é tudo questão de tempo, mas não resta dúvida de que o Planalto até conseguiu uma momentânea vitória, ao tirar Dilma do foco da mídia e transformar Eduardo Cunha no vilão da vez. Sem dúvida, a Organização Globo lidera a campanha para desmoralizá-lo, e este movimento conta com a ajuda do próprio Cunha, que ainda é inexperiente nessas brigas de cachorro grande e acaba metendo os pés pelas mãos.
CUNHA SE DEFENDE MAL
Nos últimos meses, Cunha havia se tornado uma esperança para muitos brasileiros. Ele colocou a Câmara para trabalhar numa velocidade jamais vista, parecia que algo de novo estava surgindo. O problema é que o presidente da Câmara tem mostrado que é bom de ataque, porém mau de defesa. É corajoso e bate pesado nos adversários, mas seu jogo de cintura deixa muito a desejar.
Apesar das acusações contra ele no inquérito que corre no Supremo, Cunha estava se saindo muito bem. Conseguiu levantar dúvidas sobre as sucessivas denúncias, porque as testemunhas se contradisseram e as provas materiais ainda são fracas.
Sua grande mancada foi romper com a presidente Dilma, declarar-se em oposição e passar a atacar sem cessar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A partir daí, os adversários de Cunha começaram a fazer a festa, demolindo a imagem política que ele mal começara a esboçar.
O mais curioso é que Janot ainda não tem prova consistente contra Cunha. A única coisa que seus peritos descobriram foi que o computador de Cunha estava ligado na hora em que o computador da então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ) registrou os pedidos de informações sobre fornecedores da Petrobras. Mas isso não prova nada. Se Janot tivesse encontrado algo mais sólido, já teria divulgado, prazerosamente.
RENAN SAI DA TOCA
O fato é que Cunha se precipitou ao tentar demolir essa perícia feita por Janot na Informática da Câmara, pois foi pedir apoio justamente ao petista Luis Inácio Adams, da Advocacia Geral da União, como se fosse possível contar com o inimigo. Por óbvio, acabou se enredando ainda mais.
Esses seguidos erros políticos de Cunha, podem acreditar, o senador Renan Calheiros jamais cometeria. Mais experiente e acostumado a grandes embates, Renan domina como poucos a arte de morder e assoprar ao mesmo tempo. Espertamente, na chamada undécima hora, Renan agora surge como salvador da pátria, entregando a Dilma 27 propostas de combate à crise, das quais 19 já estão tramitando no Congresso, vejam como é criativo o senador alagoano.
É TUDO MENTIRA
Ao contrário do documentário que Orson Welles jamais concluiu, é tudo mentira e Renan apenas joga para a plateia. Sua única intenção é se safar do Lava Jato. Há mais provas contra ele do que contra Cunha.
Se o procurador Janot tirar o nome de Renan no próximo listão e mantiver o de Cunha, será mais um escândalo envolvendo este patético governo, que a cada dia insiste em nos surpreender, sempre negativamente.
O Planalto ganhou uma pequena trégua para respirar, mas seu fôlego acaba este domingo, quando o povo sair às ruas. O espetáculo será impressionante e pacífico, mostrando a maturidade da democracia brasileira.
12 de agosto de 2015
Carlos Newton
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