"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

POR QUE RENAN IMPEDIU QUE O CIRCO PEGASSE FOGO

A pergunta que ninguém respondia, ontem, mas presentes múltiplas respostas em todas as especulações, era porque o presidente do Senado, Renan Calheiros, trocou de camisa e passou a jogar no time da presidente Dilma. Afinal, depois de acionar baterias contra o governo, prometendo até dar seguimento a um eventual processo de impeachment contra Madame, se a Câmara assim decidisse, o senador alagoano saltou de banda. Declarou que dar prioridade ao impeachment seria botar fogo no país. E mais: apresentou um elenco de 28 propostas de recuperação nacional que fizeram a alegria do ministro Joaquim Levy. Propôs uma trégua e acrescentou que o Congresso sequer deve priorizar a análise das contas de Dilma no ano de 2014.

Patriotismo? Preocupação com os rumos da crise capaz de colocar o Brasil em frangalhos? Concordância em que o PMDB faz parte do governo e deve respaldá-lo? Interesse em participar das benesses do poder?

Ou... Ou ter recebido a promessa de que não será incluído na lista de denuncias do Procurador Geral da República contra parlamentares envolvidos no escândalo da Petrobras?

Fica difícil supor Rodrigo Janot participando desse tipo de barganha, mas é bom não esquecer que a reviravolta de Renan aconteceu logo após o palácio do Planalto haver enviado ao Senado a indicação para o procurador ser reconduzido por mais dois anos de mandato.

Acresce estarem as instituições tão próximas do colapso que todo esforço em favor da pacificação parece necessário. De uma forma ou de outra, a intervenção do presidente do Senado, nas últimas horas, trouxe um refrigério ao governo. Dilma está mais tranquila, ainda que a tempestade continue sobrevoando a Praça dos Três Poderes. Senão neutralizada, encontra-se menos aguda a guerrilha desencadeada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que não tem duvidas de vir a ser denunciado nos próximos dias ou horas. Aparentemente, separaram-se os interesses dos dois comandantes do Legislativo. Cunha pretende botar fogo no circo, Renan veste a farda de bombeiro.

Será preciso confirmar essas ilações, mas se o Senado servir de anteparo ao caos institucional, de alguma vantagem os senadores se beneficiarão. O prestígio de seu presidente junto aos patamares do poder não livrará alguns de seus integrantes de responderem junto ao Supremo Tribunal Federal, como Fernando Collor. Prevê-se, no entanto, a aprovação de Janot na Comissão de Constituição e Justiça e, depois, no plenário. Haverá ebulição nos debates entre os senadores, mas a atuação de Renan surge decisiva, para a aprovação.

Politica é assim mesmo, cheia de ressalvas e meandros, como também de surpresas. Hoje, porém, o quadro é esse. Amanhã, só Deus sabe.

LULA REJEITA SER MINISTRO

A presidente Dilma, de boca, afastou a hipótese de imediata reforma do ministério, ainda que os rumores e os desejos continuem cruzando os céus de Brasília. Parece afastada, apesar disso,a possibilidade de o ex-presidente Lula vir a ser ministro, seja de Relações Exteriores, seja de Defesa. Passar de Comandante em Chefe a general não é de seu feitio. Nem de qualquer outro chefe de governo, exceção de Nilo Peçanha e Nereu Ramos. Muito menos Madame se sentiria à vontade. A reforma ministerial surge como um imperativo político, ainda que o momento para sua deflagração dependa da presidente, especializada em protelações. Não dá para afastar os partidos da refeição, ou seja, podem mudar os comensais, mas os partidos continuarão sentados à mesa ou até na cozinha, preparando os quitutes.

12 de agosto de 2015
Carlos Chagas

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