Uma mudança no atual sistema eleitoral é necessária e urgente, mas será tolice permitir que ela seja proposta pelos políticos. Não podemos deixar que aqueles que nos revoltam e entristecem finjam que estão propondo uma automoralização e acabem por nos enganar mais uma vez.
A reforma precisa ser elaborada por aqueles que estão revoltados com os insultos que vêm recebendo da classe política. Cada novo escândalo de corrupção representa, na verdade, mais um tapa na cara dos eleitores. Isso nos leva a crer que a verdadeira mudança só vai acontecer no dia em que os políticos profissionais saírem de cena. Não é muito difícil imaginar que nossa vida seria melhor sem a presença nefasta desse pequeno grupo, que representa 0,1% da população.
Precisamos começar com a substituição geral de todas as pessoas que hoje exercem cargos eletivos, comumente chamadas de políticos, e continuar no futuro com o estabelecimento de uma regra que não permita o surgimento de novos políticos profissionais. A representação pública pode e deve ser exercida por pessoas diferentes e escolhidas entre as pessoas de destaque nos 99,9% restantes da sociedade.
Esse sonho, embora à primeira vista pareça utópico, só depende de um parágrafo na reforma política incluindo inelegibilidade automática aplicável a todos os cargos eletivos. O cidadão exerce o mandato como vereador, deputado, senador, prefeito, governador ou presidente da República e, ao fim, volta para sua atividade de origem. Desaparece, dessa forma, a figura do político profissional e os nossos representantes passam a ser empresários, donas de casa, estudantes, profissionais liberais, advogados, médicos...
Alguns se dizem preocupados com essa mudança constante de representantes, acreditando que ela traria sempre pessoas inexperientes. Quem levanta esse tipo de argumento não se dá conta de que está saindo em defesa dos atuais políticos e reconhecendo sua dependência deles. Trata-se de uma alegação apressada, pois não encontra nem sequer um único exemplo na história do Brasil. Nunca, nunca mesmo, tivemos um político que tenha reconhecido falhar no seu primeiro mandato por falta de experiência. Para um bom mandato no Poder Legislativo, o futuro parlamentar precisa somente de boa formação e bom caráter, nada mais que isso.
A experiência prévia em administração é desejável evidentemente para os cargos do Poder Executivo, em que devemos procurar administradores que já tenham mostrado sucesso na gestão de finanças e de recursos humanos. Incrivelmente, o modelo democrático decadente que vivemos hoje insiste em nos fazer pensar que um bom governador ou prefeito deverá ser escolhido somente entre aqueles políticos profissionais de destaque. Um lamentável erro de avaliação que tem nos custado muito caro.
Outros também insistem em lembrar que esse tipo de democracia não existe em nenhum outro país do mundo. O argumento é desnecessário, pois a discussão deve se concentrar unicamente nas vantagens (ou desvantagens) de uma renovação constante. Para nossa sorte, o inventor da roda não levou em conta que aquilo ainda não tinha sido inventado nos Estados Unidos.
04 de abril de 2015
Mario Braga
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