Nos primeiros meses do regime imposto pelos militares em 1964, o todo-poderoso ministro do Planejamento, Roberto Campos, apresentou seu plano de recuperação econômica, sob a sigla PAEG. Tratava-se de um texto de quase 100 páginas, onde tudo se detalhava, até a previsão de um superavit de 50 milhões de dúzias de ovos em todo o país.
O problema era que o programa econômico do governo deposto de João Goulart, elaborado por Celso Furtado e chamado de Plano Trienal, havia previsto um deficit de 141 milhões de dúzias de ovos.
Carlos Lacerda, que havia contribuído para a eclosão do movimento militar, mas já dava sinais de romper com sua política econômica, foi à televisão e indagou sobre qual dos dois, Campos ou Furtado, adulterara mais as estatísticas, ou melhor, a qual dos dois faltou mais a cooperação das galinhas?
Registrou-se uma gargalhada nacional, exprimindo a ideia que o cidadão comum fazia dos economistas: reverenciava todos eles, mas não acreditava em nenhum.
Guardadas as proporções e com todo o respeito, loas devem ser entoadas para Joaquim Levy e para Guido Mantega, mas qual deles estará com a verdade?
O atual ministro da Fazenda vem apresentando um quadro dantesco da economia nacional, prevendo a recessão e até o caos se não forem aprovadas pelo Congresso as medidas do ajuste fiscal, da redução de direitos trabalhistas ao aumento de impostos e a restrições às empresas privadas.
Não dá para comparar esse diagnóstico com as previsões feitas pelo antecessor, de que 32 milhões de pobres foram incorporados à classe média, que a crise era passageira, estava controlada e devia-se a fatores externos.
As elites conservadoras tem como norma considerar todos os ministros da Fazenda como oráculos absolutos.
As elites conservadoras tem como norma considerar todos os ministros da Fazenda como oráculos absolutos.
Apoiavam Mantega como apoiam Levy. Vale, porém, rejeitar ambos e vivendo sem a euforia espetaculosa nem o catastrofismo absoluto.
Melhor ignorar a manipulação de conceitos e de números, ganha-pão dos economistas. Vamos prestar mais atenção na colaboração das galinhas...
04 de abril de 2015
Carlos Chagas
04 de abril de 2015
Carlos Chagas
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