A presidente Dilma tem três graus de desafios, se dividirmos o eleitorado entre os que votaram no governo, os que preferiram a oposição e quem se absteve ou votou nulo e branco. Aos 38% dos eleitores que votaram nela, Dilma tem que provar coerência; aos 36% que optaram pela oposição, ela tem que provar competência; e os 26% que não votaram precisam ser trazidos para o jogo.
Será difícil mostrar coerência aos seus. Os primeiros dias já foram de contorcionismo quase circense. Os juros, que os adversários elevariam, seu Banco Central os elevou; o ajuste fiscal, que não precisaria ser feito, virou um pedido ao Congresso para descumprir as metas de 2014; o dever de casa que ela negou, já admitiu que terá que fazer; os banqueiros, que "tomam comidas e livros dos pobres", frequentaram listas de ministeriáveis; a empresa na qual não ficaria pedra sobre pedra até se descobrir todo o "mal feito" teve a primeira pedra removida por exigência de uma firma internacional de auditoria; a crise elétrica inexistente pode provocar cortes de luz durante o verão. Coerência foi um produto escasso nesses primeiros dias.
Na entrevista que a presidente Dilma concedeu aos jornalistas, na quinta-feira, o marketing eleitoral sofreu novas torções. A presidente disse que o governo precisa cortar os gastos e tem que controlar a inflação. Os dois temas estiveram na campanha com outro tom: a inflação estaria controlada e os gastos, também, já que o ajuste fiscal não seria necessário. Agora, o ministro Guido Mantega diz que vão ser "reformatados" o seguro-desemprego, auxílio-doença e abono salarial. Não disse o que significa "reformatar", mas garantiu que o gasto vai diminuir. Admitiu também que os bancos públicos terão um papel menor.
Quando falou de onde diminuir gastos, Dilma disse que é "lorota" reduzir os ministérios. O exemplo que deu de como todos eles são necessários mostra uma avaliação deficiente de administração. "Eu não posso acabar com portos e aeroportos", justificando os ministérios dos Portos e da Aviação Civil. Ora, todos podem estar dentro do Ministério dos Transportes. Até porque hoje a logística é integração dos modais. Essa pulverização de instâncias administrativas é exatamente o oposto do que tem que acontecer. Lorota é achar que uma área tem relevância e gestão eficiente se tiver um ministério só seu. Esse monte de ministérios existe para atender a todos os pedidos fisiológicos da base partidária e distribuir nacos de poder para cada facção dos partidos e para as cotas pessoais dos líderes influentes.
Ela desagrada ao seu grupo quando fala em ajuste, em corte de gastos, em revisão do seguro-desemprego, e quando aumenta a gasolina e os juros. Não atrai os que não votaram nela ao entrar em contradição ou ao insistir em contar a história com as distorções do palanque.
Apesar do alerta do governo de aumento do risco de falta de energia neste verão, ela disse que tem 20 mil megawatts de energia térmica e "quando teve o apagão se tinha 4 mil era muito". Isso assalta a inteligência alheia. É claro que comparado com 13 anos atrás tem que haver mais megawatts de qualquer fonte. A ideia de montar um sistema de térmicas como garantia para as oscilações hídricas foi criada naquela época pelos gestores da crise no governo Fernando Henrique. A crise é grave, há uma enorme conta que irá bater no bolso do consumidor provocada pelo adiamento de medidas necessárias na área energética. O tarifaço que houve este ano será seguido por outro no ano que vem, em que se começa a pagar a conta do empréstimo às distribuidoras.
Na quinta-feira, foi divulgado o aumento da miséria que havia sido adiado pelo Ipea. Na sexta, seriam divulgados os dados de desmatamento, mas depois o governo recuou. Esses dados, do sistema de alerta em tempo real, têm que sair mensalmente. O governo continua escondendo que o desmatamento aumentou.
Nestas duas semanas está sendo desmontado o palanque: a cada dia se confirma algo que era negado. O problema é que desta forma ela não atrai quem não votou nela e pode decepcionar quem acreditou no que a propaganda oficial dizia. Os que se abstiveram não têm motivos para entusiasmo diante dessa triste forma de fazer política.
Será difícil mostrar coerência aos seus. Os primeiros dias já foram de contorcionismo quase circense. Os juros, que os adversários elevariam, seu Banco Central os elevou; o ajuste fiscal, que não precisaria ser feito, virou um pedido ao Congresso para descumprir as metas de 2014; o dever de casa que ela negou, já admitiu que terá que fazer; os banqueiros, que "tomam comidas e livros dos pobres", frequentaram listas de ministeriáveis; a empresa na qual não ficaria pedra sobre pedra até se descobrir todo o "mal feito" teve a primeira pedra removida por exigência de uma firma internacional de auditoria; a crise elétrica inexistente pode provocar cortes de luz durante o verão. Coerência foi um produto escasso nesses primeiros dias.
Na entrevista que a presidente Dilma concedeu aos jornalistas, na quinta-feira, o marketing eleitoral sofreu novas torções. A presidente disse que o governo precisa cortar os gastos e tem que controlar a inflação. Os dois temas estiveram na campanha com outro tom: a inflação estaria controlada e os gastos, também, já que o ajuste fiscal não seria necessário. Agora, o ministro Guido Mantega diz que vão ser "reformatados" o seguro-desemprego, auxílio-doença e abono salarial. Não disse o que significa "reformatar", mas garantiu que o gasto vai diminuir. Admitiu também que os bancos públicos terão um papel menor.
Quando falou de onde diminuir gastos, Dilma disse que é "lorota" reduzir os ministérios. O exemplo que deu de como todos eles são necessários mostra uma avaliação deficiente de administração. "Eu não posso acabar com portos e aeroportos", justificando os ministérios dos Portos e da Aviação Civil. Ora, todos podem estar dentro do Ministério dos Transportes. Até porque hoje a logística é integração dos modais. Essa pulverização de instâncias administrativas é exatamente o oposto do que tem que acontecer. Lorota é achar que uma área tem relevância e gestão eficiente se tiver um ministério só seu. Esse monte de ministérios existe para atender a todos os pedidos fisiológicos da base partidária e distribuir nacos de poder para cada facção dos partidos e para as cotas pessoais dos líderes influentes.
Ela desagrada ao seu grupo quando fala em ajuste, em corte de gastos, em revisão do seguro-desemprego, e quando aumenta a gasolina e os juros. Não atrai os que não votaram nela ao entrar em contradição ou ao insistir em contar a história com as distorções do palanque.
Apesar do alerta do governo de aumento do risco de falta de energia neste verão, ela disse que tem 20 mil megawatts de energia térmica e "quando teve o apagão se tinha 4 mil era muito". Isso assalta a inteligência alheia. É claro que comparado com 13 anos atrás tem que haver mais megawatts de qualquer fonte. A ideia de montar um sistema de térmicas como garantia para as oscilações hídricas foi criada naquela época pelos gestores da crise no governo Fernando Henrique. A crise é grave, há uma enorme conta que irá bater no bolso do consumidor provocada pelo adiamento de medidas necessárias na área energética. O tarifaço que houve este ano será seguido por outro no ano que vem, em que se começa a pagar a conta do empréstimo às distribuidoras.
Na quinta-feira, foi divulgado o aumento da miséria que havia sido adiado pelo Ipea. Na sexta, seriam divulgados os dados de desmatamento, mas depois o governo recuou. Esses dados, do sistema de alerta em tempo real, têm que sair mensalmente. O governo continua escondendo que o desmatamento aumentou.
Nestas duas semanas está sendo desmontado o palanque: a cada dia se confirma algo que era negado. O problema é que desta forma ela não atrai quem não votou nela e pode decepcionar quem acreditou no que a propaganda oficial dizia. Os que se abstiveram não têm motivos para entusiasmo diante dessa triste forma de fazer política.
11 de novembro de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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