"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

AJUSTAR OS SINAIS

Governo federal reconhece necessidade de corrigir rumos da política econômica, mas não esboça planos de médio e longo prazo

Depois de reeleita, a presidente Dilma Rousseff (PT) deu sinal claro de que reconhece a necessidade de ajustar a política econômica implementada nos últimos três anos. Foi dúbia a respeito de quão grandes serão, a seu ver, as dificuldades e as correções de rumo, mas não indicou que pretenda empreender reformas amplas.

A elevação da taxa de juros, o reajuste do preço dos combustíveis e as promessas de reduções de gastos excessivos no INSS sugerem que Dilma não quer replicar os erros do primeiro mandato. Há motivos, no entanto, para temer que o novo governo se limite a atenuar esses equívocos.

A presidente tem reiterado que o ajuste não pode ser recessivo ou provocar desemprego. Ocioso dizer que ninguém deseja aumentar a aflição socioeconômica.

O problema não está nas boas intenções, mas na mensagem subjacente aos desejos. Isto é, Dilma pode insistir no programa de estímulos artificiais que exauriu recursos federais e resultou em crescimento quase zero, em inflação persistente e deficit externo em alta.

Por vezes, o governo dá a impressão de que a tarefa se esgota em melhorar sua imagem entre financistas e empresários a fim de granjear apoio político.

Não se trata apenas de retórica, boas relações e confiança, porém; é preciso estabilizar a economia, conter de fato a alta crescente de dívidas, preços, juros e gastos.

Isso feito, o país não estará necessariamente preparado para crescer a um ritmo similar ao dos anos de 2004 a 2010.

Tal como médicos lidam com um paciente abalado, importa restabelecer ou equilibrar os sinais vitais --temperatura, pressão, batimentos cardíacos, oxigenação. Um paciente estável, todavia, não está curado. Só recuperou as condições rotineiras de sobrevivência.

As condições da sobrevida do crescimento no Brasil não estão dadas. Desde 2007 cessaram as mudanças institucionais da economia. Embora exista consenso acerca do imperativo de elevar a produtividade, há controvérsia sobre estratégias de prazo mais longo.

Ainda assim, há tarefas óbvias e imediatas, como incentivar o investimento privado em infraestrutura, reduzir subsídios a grandes empresas, conter excessos na Previdência, remover o entulho burocrático que a todos estorva.

Os planos para tratar de tais assuntos inexistem ou são vagos. Sabe-se apenas da intenção de moderar os estímulos fracassados ao crescimento de curto prazo.

Tal programa, além de tacanho, eleva o risco de que o governo volte a se emaranhar na administração de remendos econômicos, estagnação e aumento da tensão social.
 
11 de novembro de 2014
Editorial Folha de SP

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