O coronel e o major já não trabalhavam em Bangu. Vinham ocupando, respectivamente, os cargos de comandante e subcomandante do Comando de Operações Especiais (COE) da PM, ao qual estão subordinados o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Grupamento Aeromarítimo (GAM) e o Batalhão de Choque (BPChoq), tropas de elite da PM.
O coronel Fontenelle era o terceiro na hierarquia da Polícia Militar e foi preso em casa. A quadrilha atuava principalmente no bairro de Bangu, na zona oeste do Rio. Também foram presos os majores Nilton João dos Prazeres Neto (chefe da 3ª Seção) e Edson Alexandre Pinto de Góes (coordenador de Operações), além dos capitães Rodrigo Leitão da Silva (chefe da 1ª Seção) e Walter Colchone Netto (chefe do Serviço Reservado) – todos lotados no 14º Batalhão (Bangu).
EXTORSÕES
De acordo com as investigações da Subsecretaria de Inteligência (SSINTE) da Secretaria de Segurança (Seseg), as equipes de policiamento cobravam propina de comerciantes, empresários, ambulantes, mototaxistas e motoristas de cooperativas de vans e de empresas transportadoras de carga que circulavam na área do 14º BPM.
Em vez de coibir os veículos irregulares e a venda de produtos piratas, eles se aproveitavam da situação ilegal para exigir as propinas, que variavam de R$ 10 a mais de R$ 2,5 mil e seriam cobradas diária, semanal ou mensalmente.
Terceiro na hierarquia da PM, o coronel Fontenelle foi preso em casa, no Leme, zona sul. A polícia informou ter encontrado R$ 300 mil em dinheiro no apartamento do oficial, além de uma contabilidade com valores recebidos e distribuídos e bilhetes informando sobre a divisão do dinheiro. O Ministério Público anunciou que fará uma investigação sobre o patrimônio do coronel.
OUTROS PRESOS
Também atuavam no Batalhão de Bangu e foram detidos na Operação Amigos S/A os majores Nilton João dos Prazeres Neto (chefe da 3ª Seção) e Edson Alexandre Pinto de Góes (coordenador de Operações) e os capitães Rodrigo Leitão da Silva (chefe da 1ª Seção) e Walter Colchone Netto (chefe do Serviço Reservado). Todos integravam a cúpula do Batalhão de Bangu. Na casa do major Edson foram apreendidos R$ 287 mil, segundo o Ministério Público.
O capitão Colchone já havia sido preso em operação contra a máfia de caça níqueis e estava lotado administrativamente no setor de Inteligência do COE. Mesmo afastado, um sargento que estava de licença médica continuava recebendo uma cota da propina.
Durante as investigações, que duraram dois anos, foi possível verificar que a quadrilha já agia no 41º BPM (Irajá, zona norte), onde o Estado Maior estava lotado anteriormente, e manteve o modo de atuação quando houve a transferência para Bangu. O Ministério Público informou não saber desde quando a quadrilha atuava e os valores arrecadados mensalmente.
OPERAÇÃO
O objetivo da ação Amigos S/A era cumprir 25 mandados de prisão, sendo 24 contra PMs e um contra policial civil, e 53 de busca e apreensão. Dois policiais continuam foragidos. Além dos agentes da SSINTE e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), também participam da ação a Corregedoria da Polícia Militar e da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco/IE).
A investigação é um desdobramento da Operação Compadre, deflagrada em abril de 2013, quando 78 mandados de prisão foram expedidos, 53 deles contra policiais militares, para a desarticulação de uma quadrilha que cobrava propina de feirantes e comerciantes com mercadorias ilícitas, em Bangu.
18 de setembro de 2014
Thaise Constâncio
O Estado de S. Paulo
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