"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

BANDALHEIRAS EM 2015

CONTRA OS LADRÕES DO PT, VOTO AÉCIO 45

Excessos consumistas na compra de partidos, votos e tempo de TV devem azedar o clima político


FAZ UM MÊS, 35% dos eleitores diziam ao Datafolha que não votariam de jeito nenhum em Dilma Rousseff (PT); 15% rejeitavam Marina Silva (PSB). Uma diferença de 20 pontos, que baixou para apenas 8 pontos na pesquisa divulgada na sexta-feira.

A gente não sabe se a demolição do prestígio de Marina se deveu, de forma relevante, à propaganda boca-a-boca nas periferias e nos rincões do país ou mesmo à difusão de rumores terroristas.

De mais certo, as pesquisas internas dos partidos indicam que a campanha na TV foi decisiva.

Sim, a conclusão parece de bom senso óbvio, até que pesquisas e estudos virem do avesso o que pareciam intuições certeiras.

Recorde-se que até pouco antes do início do horário eleitoral havia falação de como as "redes sociais" seriam importantes na definição do voto nesta campanha. De novo, as mesmas pesquisas feitas pelos partidos, vários deles, sugerem que não foi bem assim, ao contrário. Aparentemente, na internet o jogo empatou. Na TV, teve 7 a 1.

Tudo mais constante, se nada mais mudar no que diz respeito pelo menos a leis eleitorais e ao bacanal de coalizões, haveria ainda mais incentivo para a compra de partidos e tempos de TV.

Parece óbvio também. Mas será tão simples assim?

Como todo mundo também sabe, suspeita-se de que o mais recentemente descoberto escândalo de compra de apoio político com dinheiro público furtado pode envolver umas quatro ou cinco dúzias de políticos graduados, do Congresso aos governos de Estado. Vai dar em nada? Hum. Difícil.

A tolerância com essa bandalha tem diminuído, seja entre a população, seja na Justiça, mesmo com idas e vindas ou indignações seletivas (vide a desconversa sobre o mensalão tucano, vide o fato de empresas corruptoras saírem na flauta etc). As leis estão um pouco mais funcionais e funcionantes (ficha suja, delações premiadas, aperto na lei brasileira sobre empresas corruptas). A propaganda do governo diz que a Polícia Federal está muito mais ativa; é propaganda, mas é verdade. Há políticos na cadeia. Houve junho de 2013.

Decerto não há garantia alguma de que essa confluência de fatores resulte em ao menos uma limpa grande das tantas mãos sujas. Mesmo assim, vai sair barato? Décadas de bandalha escarninha e o auge do bacanal de coalizões partidárias vão sair de graça?

Pode sair até caro demais. A eleição deste ano já teve fumaças de salvadores da pátria, eleitores à procura de políticos "apolíticos", "outsiders", cansaço ou repulsa aos partidos maiores e melhorzinhos que tivemos por aqui, ora apodrecidos, de um modo ou outro, PT e PSDB.

O próximo Congresso deve ser o mais fragmentado da história. Haverá mais blocos de votos à venda, a princípio. O novo presidente pode tentar fazer os negócios habituais para montar (na grana) a sua coalizão. Mas o risco de haver besteira aumentou.

Além da impaciência acumulada com a bandalha, metade do país estará muito insatisfeita com o presidente eleito, seja quem for. Mais um ano de lerdeza econômica e a expansão mais lenta da despesa social, se alguma, deve causar mais irritação. "Tenso", como dizem os adolescentes.


29 de setembro de 2014

Vinicius Torres Freire, Folha de SP

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