A entrada de Marina Silva na disputa presidencial rompe a lógica de polarização da campanha entre PT e PSDB. Com 19,6 milhões de votos obtidos na eleição presidencial de 2010, quando disputou pelo PV e ficou com quase 20% dos votos válidos, Marina coloca o PSB no páreo por um lugar no segundo turno.
Nem PT, nem PSDB, porém, pretendem transformá-la em alvo de ataques durante o primeiro turno, não só na tentativa de manter um bom relacionamento para o segundo turno, mas também para aguardar que diminua a comoção gerada pela morte de Eduardo Campos e possam mensurar o efeito da tragédia na atração de votos para Marina.
Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, afirma que a presença de Marina Silva terá um impacto muito maior da campanha eleitoral do PT do que na campanha do tucano Aécio Neves.
- O Campos (Eduardo Campos) não era parte da disputa real. Ele não tinha mais como subir. Ela (Marina) tem um recall imenso da última eleição e representa bem mais do que o Eduardo o desânimo com a política - disse Goldman, que comparou a imagem de Marina à de Madre Tereza de Calcutá.
Na avaliação de Goldman, Marina Silva vai quebrar a linha de raciocínio das últimas campanhas petistas, que buscavam transformar o embate numa disputa de pobres contra ricos, num embate contra uma suposta elite que representa atraso e retrocesso.
- Não tem mais polarização entre PT e PSDB - afirmou.
Ele afirmou que o PSDB não deve mudar sua campanha e continuará se colocando como oposição ao PT.
- Nosso inimigo se chama Dilma, Lula e PT. Nossa campanha é contra ele, oferecendo uma alternativa. Irá para o segundo turno quem oferecer a melhor alternativa. Só existe um candidato de situação.
Os demais são oposição e, mais do que derrotar o atual governo, é preciso discutir quem é o melhor para governar, quem tem mais experiência e capacidade de montar alianças - afirmou.
Um dos atributos que o PSDB pretende acentuar na campanha de Aécio Neves é a capacidade de aglutinar forças para governar com mais eficiência.
Na avaliação de Goldman, ao contrário do PSDB, que continua a centrar fogo contra o inimigo de sempre, o PT terá de enfrentar uma candidata que já esteve na legenda e saiu por discordar dela e que é crítica em relação ao atual governo. No lugar de ter um único opositor, o PT terá de enfrentar dois.
- O segundo turno está decidido: vai ter - diz Goldman.
Edson Aparecido, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, afirma que o posicionamento que o PSDB irá tomar em relação à candidatura de marina depende da oficialização pelo PSB, o que deverá ser feito no decorrer da semana. Lembrou ainda que o presidente estadual do PSB em São Paulo, Márcio França, é vice na chapa de reeleição de Geraldo Alckmin.
- Vamos esperar primeiro o PSB fazer o seu rearranjo na disputa para depois nos posicionarmos. No caso de São Paulo temos uma relação harmoniosa com o PSB, que é vice na disputa em São Paulo - afirmou
Já o secretário de comunicação do PT, José Américo, afirmou que o principal adversário continua a ser Aécio Neves (PSDB) e que, no caso da nova candidata do PSB, será adotado um tom de respeito, até pela sua proximidade com alguns políticos petistas.
- É com o Aécio Neves que vamos polarizar. Ela será tratada com respeito. Mas eleição é eleição. Se ela for para o segundo turno, vamos destacar as nossas diferenças, mas não será uma polarização - explicou.
Marina Silva fez parte do PT entre 1985 e 2009, quando deixou o partido para se filiar ao PV. Chegou a ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula entre janeiro de 2003 e maio de 2008.
Na avaliação de Américo, o PT vai continuar a insistir que a candidatura do tucano é a que representa o atraso e o conservadorismo para o país. No entanto, para ele, ainda é cedo para fazer qualquer avaliação sobre o efeito de Marina na campanha, o que só será possível entre dez e quinze dias, com a divulgação das primeiras pesquisas eleitorais após alguns dias de campanha eleitoral na TV, que tem início na próxima terça-feira.
- Eu acho ainda que está muito cedo para definir qualquer coisa. O cenário mais provável é de vitória da Dilma do primeiro turno - afirmou.
Na avaliação de Florisvaldo Costa, secretário de Organização do PT, encarregado de fazer o mapa das alianças nos estados, diz que não acredita que a candidatura de Marina Silva seja tão impulsionada pela comoção causada pela morte de Campos.
- A Marina Silva continua sem palanque nos estados, sem uma boa estrutura de campanha, e a tendência é perder palanques que eram do Eduardo Campos. Mas quem vai ter o primeiro problema é o Aécio Neves.
Ele é que terá de olhar para frente e para o retrovisor. No nosso caso, faremos a defesa do nosso projeto de governo e isso não significa buscar um inimigo - afirmou.
Em São Paulo, o PT deverá priorizar sua campanha na Região Metropolitana de São Paulo, onde a presença do partido é forte, e em municípios onde Dilma aparecerá ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como São José do Rio Preto, Campinas, São José dos Campos, Presidente Prudente e Jales.
Na Grande São Paulo, a ideia é contar com as prefeituras administradas hoje pela legenda, como Guarulhos, Diadema, Osasco e Carapicuíba.
- Vamos esperar. As melancias vão se assentar no caminhão. Não é um mar de rosas, deve ter segundo turno - opina Aparecido Silva, secretário de comunicação do PT-SP.
18 de agosto de 2014
in aluizio amorim
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