"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O EFEITO COMOÇÃO

Os números publicados pelo instituto Datafolha sobre as intenções de votos para a eleição presidencial, ainda sob o efeito da comoção pela morte trágica do candidato Eduardo Campos, deve ser lida com certa precaução.

O velório midiático de um jovem político, pai de cinco filhos, com um futuro promissor mexe com o emocional do eleitor médio brasileiro. Portanto não foi surpresa os índices alcançados por Marina Silva, obtendo 21% da preferência do eleitor em primeiro turno contra os 20% de Aécio Neves.
 
A candidata Dilma Rousseff manteve os mesmos 36% da pesquisa anterior, mas o seu governo subiu 6 pontos percentuais no conceito dos entrevistados. Um dado, altamente expressivo quando se trata de eleição majoritária, atinge a candidatura petista de forma quase mortal: 36% de rejeição contra 18% de Aécio Neves e 11% de Marina Silva.
Por um lado, Dilma pode se sentir confortável com a melhora de seu governo sob o olhar do eleitor, mas sob outro ângulo é preocupante que num provável segundo turno seria derrotada por Marina Silva.
 
Mas continua o registro inicial: somente mais à frente, com pesquisas fora do alcance midiático e comovente do velório de Eduardo Campos, os números serão mais confiáveis.
Outro fator que deve ser considerado é que tanto Dilma como Aécio não perderam eleitores para Marina. Os 21% da candidata do PSB saíram dos indecisos e dos que não sabiam em que votar, somados, é evidente, aos 8% de Campos.
 
Dos três candidatos Aécio é o menos conhecido, principalmente considerando que Dilma e Marina já concorreram à presidência.
 
É verdadeira a tese de que existe um recall dos votos obtidos por Marina Silva da última eleição, quando conseguiu levar o pleito para o segundo turno com os seus 20 milhões de votos. O que não é pouca coisa, é bom ressaltar. Da mesma forma é consistente a tese de que Dilma perderá eleitores no norte e nordeste do Brasil para a candidata socialista.
 
A Aécio cabe jogar com tudo nos Estados do sudeste, centro-oeste  e do sul do Brasil, para obter uma boa vantagem que diminua os votos do norte e nordeste favoráveis aos adversários. Se contra Dilma pesa aquele ar arrogante e expressão mau humorada, para Marina favorece aquela presença frágil, porém movida por um conteúdo que envolve um comportamento ético que mexe com o imaginário popular.
 
À candidatura tucana é bater na tecla de que Aécio Neves tem experiência legislativa (foi deputado e senador), foi um ótimo gestor como governador de Minas Gerais em dois mandatos e que um governo seu trará mudanças para melhorar a vida de todo o povo brasileiros, mantendo o que deu certo de governos anteriores.
 
Cabem, de forma procedente, algumas ressalvas sobre a candidata ambientalista: não se sabe bem o que pensa Marina Silva sobre o papel do Estado, pois nada do que disse até agora tem sentido quando se juntam as peças do seu discurso; até o momento desconhece-se as linhas programáticas de um futuro governo seu; a falta de quadros no PSB obrigará Marina a buscar nomes de peso de outros partidos, mas que partidos participarão desse consórcio? A candidatura de Marina Silva é uma total incógnita.
 
Curiosamente, são os eleitores com curso superior e de alta renda que alçaram a candidata ambientalista na condição de vencedora num provável segundo turno. Bateu o medo na campanha petista porque a esperança, segundo  esses eleitores letrados e com boa renda, é Marina Silva.
Lamentável que essa mesma elite que aposta na candidata do PSB não esteja procurando saber qual o modelo de Estado que Marina Silva deseja para o Brasil? Como a candidata conviverá com o agronegócio, um dos setores que ainda mantém o PIB positivo? O que o setor produtivo pode esperar do seu governo? O que a candidata pensa sobre a reforma tributária?
 
Como o modelo político brasileiro se sustenta no presidencialismo de coalizão, qual será a base parlamentar de Marina Silva para aprovar as medidas que o país necessita para voltar a crescer? Se a candidatura de Marina Silva é uma incógnita, imagine-se o que não será um governo seu com partidos políticos sem quadros governando e a falta de uma base parlamentar de sustentação política.
 
Espera-se que a equipe de Aécio Neves comece a raciocinar que antes de haver um segundo turno é necessário primeiro chegar à frente da candidata do PSB. E que fique bem certo para o candidato tucano: se Marina nas próximas pesquisas ultrapassar com certa vantagem os seus índices, é quase certo que haverá o voto útil, com os eleitores de Aécio migrando para Marina Silva.
 
18 de agosto de 2014
Nilson Borges filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário