O prognóstico de que, em um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, a participação do seu patrono Lula será maior do que no atual governo - conforme o presidente do PT, Rui Falcão, em entrevista ao jornal Valor, comentada ontem neste espaço -, embute uma premissa de que ele pode, ou não, ter se dado conta. Pode, ou não, portanto, ter relação com os motivos por que o deputado deu de devolver ao centro do palco o eterno primeiro-companheiro. Parece claro que, sob pressão de circunstâncias inquietantes, o seu intuito foi duplo. De um lado, injetar ânimo na militância. De outro, despertar da letargia os generosos doadores de eleições passadas.
Os petistas de fé, evidentemente, querem que Dilma se reeleja e trabalharão para isso pela razão elementar de que a alternativa seria ideologicamente abominável, além de representar, no caso das elites partidárias a que se vinculam, lastimável perda de poder e privilégios. Embora faça questão de destacar o entrosamento de Dilma com a legenda, assinalando que nenhum outro presidente do PT teve tanto acesso ao Planalto como ele nestes anos, Falcão não precisa de ninguém que lhe conte a dura verdade: a nação petista continua não se identificando com a ex-seguidora assumida de Leonel Brizola que só se filiou à sigla em 2001, levada pelo então governador gaúcho Olívio Dutra, depois que a manteve no cargo de secretária estadual de Minas e Energia para o qual havia sido escolhida pelo antecessor Alceu Collares, do PDT.
Sem falar no contraste abissal com o temperamento expansivo de Lula, o "mau humor prepotente do poste", nas palavras de recente relatório de uma consultoria econômica, também há de inibir o engajamento petista de corpo e alma na campanha (além de gerar os atritos na sua condução que a toda hora chegam aos jornais). Só o cálculo político pode não bastar para o pessoal dar tudo de si na reta final de uma disputa que será muito mais acirrada do que sugerem as pesquisas que forçosamente se dirigem aos eleitores como se a eleição "fosse hoje".
Já os financiadores se revelam sovinas, para decepção e aflição dos arrecadadores petistas, porque não querem mais do mesmo - uma presidente errática na economia, "mãe" do repique inflacionário e do crescimento esquálido, indiferente às críticas, quando não hostil aos críticos, e, ainda por cima, surda às sugestões de seu criador a quem não cessam de se queixar.
Mas a alma petista de Falcão o levou a ir além de concordar com o enunciado de seus entrevistadores, segundo o qual "parece haver uma convergência entre setores do PT e do empresariado na expectativa de maior participação de Lula" em um novo governo Dilma. Em vez de dizer que daqui para a frente muito será diferente e tentar explicar por que daqui para trás não foi, para alegria da militância e alívio, quem sabe, dos empresários frustrados, o deputado emendou: "Precisamos eleger a Dilma para o Lula voltar em 2018". O argumento contém a premissa invisível a olho nu que se mencionou no início deste texto. Ou, talvez se possa dizer, a armadilha em que Falcão caiu inadvertidamente ou à falta de escapatória: se Dilma não se reeleger agora, Lula não voltará.
Se as urnas de outubro interromperem o ciclo de 12 anos do PT no poder, a nova configuração política, o modo de exercer o governo - com o enxugamento do Ministério, logo, das oportunidades de enfeudamento do Estado - e, ainda, a mudança de rumos que fatalmente virá conduzirão, na sucessão seguinte, ao esgotamento da era Lula. "Há um embate de dois projetos no Brasil", acredita Falcão. "Não tem espaço para quem queira se credenciar como terceira via." Alijado Lula desse embate, na hipótese de derrota de sua criatura - como se depreende, logicamente, do raciocínio do deputado -, o PT não terá quem o substitua. O partido tem quadros políticos, vontade de potência e cinismo suficientes para agir com desenvoltura quando detém o mando do jogo.
Não formou, porém, campeões de voto em escala nacional. O que há, sim, são postes que dependem da energia que Lula puder lhes transmitir. O partido sempre foi menor do que o metalúrgico que o criou. Vencido ele em 2018, será o imponderável.
Os petistas de fé, evidentemente, querem que Dilma se reeleja e trabalharão para isso pela razão elementar de que a alternativa seria ideologicamente abominável, além de representar, no caso das elites partidárias a que se vinculam, lastimável perda de poder e privilégios. Embora faça questão de destacar o entrosamento de Dilma com a legenda, assinalando que nenhum outro presidente do PT teve tanto acesso ao Planalto como ele nestes anos, Falcão não precisa de ninguém que lhe conte a dura verdade: a nação petista continua não se identificando com a ex-seguidora assumida de Leonel Brizola que só se filiou à sigla em 2001, levada pelo então governador gaúcho Olívio Dutra, depois que a manteve no cargo de secretária estadual de Minas e Energia para o qual havia sido escolhida pelo antecessor Alceu Collares, do PDT.
Sem falar no contraste abissal com o temperamento expansivo de Lula, o "mau humor prepotente do poste", nas palavras de recente relatório de uma consultoria econômica, também há de inibir o engajamento petista de corpo e alma na campanha (além de gerar os atritos na sua condução que a toda hora chegam aos jornais). Só o cálculo político pode não bastar para o pessoal dar tudo de si na reta final de uma disputa que será muito mais acirrada do que sugerem as pesquisas que forçosamente se dirigem aos eleitores como se a eleição "fosse hoje".
Já os financiadores se revelam sovinas, para decepção e aflição dos arrecadadores petistas, porque não querem mais do mesmo - uma presidente errática na economia, "mãe" do repique inflacionário e do crescimento esquálido, indiferente às críticas, quando não hostil aos críticos, e, ainda por cima, surda às sugestões de seu criador a quem não cessam de se queixar.
Mas a alma petista de Falcão o levou a ir além de concordar com o enunciado de seus entrevistadores, segundo o qual "parece haver uma convergência entre setores do PT e do empresariado na expectativa de maior participação de Lula" em um novo governo Dilma. Em vez de dizer que daqui para a frente muito será diferente e tentar explicar por que daqui para trás não foi, para alegria da militância e alívio, quem sabe, dos empresários frustrados, o deputado emendou: "Precisamos eleger a Dilma para o Lula voltar em 2018". O argumento contém a premissa invisível a olho nu que se mencionou no início deste texto. Ou, talvez se possa dizer, a armadilha em que Falcão caiu inadvertidamente ou à falta de escapatória: se Dilma não se reeleger agora, Lula não voltará.
Se as urnas de outubro interromperem o ciclo de 12 anos do PT no poder, a nova configuração política, o modo de exercer o governo - com o enxugamento do Ministério, logo, das oportunidades de enfeudamento do Estado - e, ainda, a mudança de rumos que fatalmente virá conduzirão, na sucessão seguinte, ao esgotamento da era Lula. "Há um embate de dois projetos no Brasil", acredita Falcão. "Não tem espaço para quem queira se credenciar como terceira via." Alijado Lula desse embate, na hipótese de derrota de sua criatura - como se depreende, logicamente, do raciocínio do deputado -, o PT não terá quem o substitua. O partido tem quadros políticos, vontade de potência e cinismo suficientes para agir com desenvoltura quando detém o mando do jogo.
Não formou, porém, campeões de voto em escala nacional. O que há, sim, são postes que dependem da energia que Lula puder lhes transmitir. O partido sempre foi menor do que o metalúrgico que o criou. Vencido ele em 2018, será o imponderável.
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