"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

EQUÍVOCOS EM SÉRIE

No tema da competitividade do país na esfera global, não há como esconder os erros do governo federal e o prejuízo de suas decisões às empresas

O Brasil permanece nas últimas colocações em listas que organizam os países de acordo com a dificuldade para fazer negócios, a qualidade da mão de obra ou o número de horas demandadas para cumprir obrigações tributárias.

São problemas institucionais, por vezes culturais, e dificilmente poderiam ser atribuídos a um governo específico. Quando o tema é competitividade, porém, a responsabilidade da administração federal e o prejuízo provocado por suas decisões aparecem com clareza.

Estudo da consultoria The Boston Consulting Group (BCG) mostra que o custo de produzir aqui é 23% maior do que nos EUA. Em 2004, era 3% menor. Entre 25 países analisados, o Brasil se sai mal também na comparação com outros emergentes, como China, México, Índia e Rússia.

O BCG considerou quatro fatores cruciais: salários na indústria, produtividade, custo da energia e taxa de câmbio. Em todos eles o Brasil piorou nesses dez anos.

Não surpreende, pois, que as empresas brasileiras tenham dificuldade de disputar o mercado internacional e já percam terreno no ambiente doméstico. Calcula-se que, neste ano, a indústria sofrerá contração de quase 2%.

A situação decorre em especial dos seguidos erros de política econômica. Um dos principais, de natureza estratégica, foi o crescente protecionismo e a paralisia na busca por acordos comerciais com outros países, na contramão do que pratica o restante do mundo.

Hoje, as multinacionais conduzem a divisão de produção, que será cada vez mais regionalizada e centrada em locais de baixo custo. O resultado é o isolamento das empresas brasileiras das cadeias globais. Perdeu-se escala e acesso a insumos de ponta, sem o que não é possível competir.

Outro erro foi a decisão de estimular o consumo a todo custo. Para esse fim, o governo expandiu o crédito em excesso e descuidou de suas contas, propiciando um cenário de inflação e juros altos.

As intervenções em vários setores e a miríade de incentivos também bagunçaram o ambiente econômico e comprometeram o crescimento da produtividade. O preço da energia para a indústria, por exemplo, dobrou na última década, segundo a consultoria.

Por fim, o governo fracassou em destravar os investimentos em infraestrutura, outro gargalo que eleva custos e causa desperdícios.

Tudo isso derivou de um diagnóstico equivocado sobre o real desafio a ser enfrentado. O caminho deveria ter sido outro: mais abertura e integração comercial com outras nações, previsibilidade nas regras e ênfase na infraestrutura e na redução de custos, inclusive de juros, o que demanda uma gestão cautelosa do orçamento público.

Para recuperar o tempo perdido, o país precisará adotar uma nova estratégia --ou, mais precisamente, terá de criar uma.

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