O comissário petista tentou acordar seus companheiros, resta saber se eles querem despertar O ministro Gilberto Carvalho, comissário para negociações com os movimentos sociais, deu duas entrevistas reveladoras.
Numa, a blogueiros, rebateu a sociologia da conspiração inventada por Lula, segundo a qual o constrangimento imposto à doutora Dilma foi coisa da elite: “No Itaquerão não tinha só elite branca, não. Fui ao estádio e voltei de metrô, não tinha só elite, não, tinha muito moleque gritando palavrão no metrô.” (Ele já soubera do grito num show em Ribeirão Preto.)
Noutra entrevista, à repórter Natuza Nery, recomendou que o PT “não parta da ilusão de que o povo pensa que está tudo bem”.
O doutor não é um dissidente. Pelo contrário, é um quadro da velha cepa petista. Ele percebeu que chegou ao andar de baixo a ideia de que o PT é farinha do mesmo saco onde estão os demais partidos.
Atribui parte dessa percepção aos suspeitos de sempre: a imprensa conservadora, os métodos de arrecadação de recursos nas campanhas e a estrutura política. Em alguns pontos ele tem razão: se a bancada da Papuda esteve num “mensalão do PT”, não é justo falar em “mensalão mineiro” quando se trata da malfeitoria do PSDB.
Também é esquisito verificar que há petistas na Papuda e os tucanos metidos no caso da Alstom, bem mais antigo, ainda não foram julgados. O alerta de Carvalho é bem-vindo. No entanto, pela reação de seus companheiros, está longe de ser consensual. O PT jamais partiu para cima do pedaço de sua elite que se meteu em roubalheiras.
A faxina marqueteira prometida pela doutora Dilma em 2011 não passou de uma promessa. O partido associou-se aos mensaleiros, inventou teorias para justificá-los e nunca se dissociou da bancada da Papuda.
Ganha uma viagem a Cuba quem conhecer um ministro petista que não tenha sentido cheiro de queimado na Petrobras do comissário José Sergio Gabrielli.
Quando o ex-governador gaúcho Olívio Dutra defendeu a renúncia do deputado José Genoino, seu colega André Vargas insultou-o. Carvalho sabia quem era Olívio. Talvez soubesse quem era Vargas.
De qualquer forma, poderia informar-se com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sua colega de militância na política paranaense. A estrela de Vargas só se apagou quando a Polícia Federal iluminou suas relações com o doleiro Alberto Youssef. Reconheça-se que, nesse caso, pela primeira vez em muitos anos, o PT foi rápido e cortou a própria carne.
Repetiu o gesto quando um deputado estadual paulista foi apanhado nas proximidades do PCC. (Bem votado, Luiz Moura tinha na biografia a condição de assaltante condenado que fugira da cadeia e safara-se da pena com um recurso judicial.) Carvalho quis acordar o PT. Tomara que consiga, mas não parece ser esse o caminho da carruagem.
Ele diz que na origem dos males da corrupção política está o sistema de doações para campanhas. Ele (e o tucano Aécio Neves) defende uma reforma política que inclua a novidade das listas fechadas para compor uma parte da Câmara.
A doutora Dilma foi além no seu “Plano de Transformação Nacional”. Propôs que a reforma seja definida num plebiscito. Há um ano, sem ter o que fazer, o Planalto tirou essa carta da manga e nunca mais falou no assunto. Há mais de dez anos, sempre que o PT não tem o que dizer, fala em reforma política.
25 de junho de 2014
Elio Gaspari é jornalista. O Globo
Numa, a blogueiros, rebateu a sociologia da conspiração inventada por Lula, segundo a qual o constrangimento imposto à doutora Dilma foi coisa da elite: “No Itaquerão não tinha só elite branca, não. Fui ao estádio e voltei de metrô, não tinha só elite, não, tinha muito moleque gritando palavrão no metrô.” (Ele já soubera do grito num show em Ribeirão Preto.)
Noutra entrevista, à repórter Natuza Nery, recomendou que o PT “não parta da ilusão de que o povo pensa que está tudo bem”.
O doutor não é um dissidente. Pelo contrário, é um quadro da velha cepa petista. Ele percebeu que chegou ao andar de baixo a ideia de que o PT é farinha do mesmo saco onde estão os demais partidos.
Atribui parte dessa percepção aos suspeitos de sempre: a imprensa conservadora, os métodos de arrecadação de recursos nas campanhas e a estrutura política. Em alguns pontos ele tem razão: se a bancada da Papuda esteve num “mensalão do PT”, não é justo falar em “mensalão mineiro” quando se trata da malfeitoria do PSDB.
Também é esquisito verificar que há petistas na Papuda e os tucanos metidos no caso da Alstom, bem mais antigo, ainda não foram julgados. O alerta de Carvalho é bem-vindo. No entanto, pela reação de seus companheiros, está longe de ser consensual. O PT jamais partiu para cima do pedaço de sua elite que se meteu em roubalheiras.
A faxina marqueteira prometida pela doutora Dilma em 2011 não passou de uma promessa. O partido associou-se aos mensaleiros, inventou teorias para justificá-los e nunca se dissociou da bancada da Papuda.
Ganha uma viagem a Cuba quem conhecer um ministro petista que não tenha sentido cheiro de queimado na Petrobras do comissário José Sergio Gabrielli.
Quando o ex-governador gaúcho Olívio Dutra defendeu a renúncia do deputado José Genoino, seu colega André Vargas insultou-o. Carvalho sabia quem era Olívio. Talvez soubesse quem era Vargas.
De qualquer forma, poderia informar-se com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sua colega de militância na política paranaense. A estrela de Vargas só se apagou quando a Polícia Federal iluminou suas relações com o doleiro Alberto Youssef. Reconheça-se que, nesse caso, pela primeira vez em muitos anos, o PT foi rápido e cortou a própria carne.
Repetiu o gesto quando um deputado estadual paulista foi apanhado nas proximidades do PCC. (Bem votado, Luiz Moura tinha na biografia a condição de assaltante condenado que fugira da cadeia e safara-se da pena com um recurso judicial.) Carvalho quis acordar o PT. Tomara que consiga, mas não parece ser esse o caminho da carruagem.
Ele diz que na origem dos males da corrupção política está o sistema de doações para campanhas. Ele (e o tucano Aécio Neves) defende uma reforma política que inclua a novidade das listas fechadas para compor uma parte da Câmara.
A doutora Dilma foi além no seu “Plano de Transformação Nacional”. Propôs que a reforma seja definida num plebiscito. Há um ano, sem ter o que fazer, o Planalto tirou essa carta da manga e nunca mais falou no assunto. Há mais de dez anos, sempre que o PT não tem o que dizer, fala em reforma política.
25 de junho de 2014
Elio Gaspari é jornalista. O Globo
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